Ontem, pela primeira vez, publiquei como música do dia uma canção em
outra língua que não o português. Em espanhol, “Todo se transforma”.
Traduzindo: tudo se transforma. Parece óbvio, mas melhor que fique bem claro. Quando
decidi vir para o mundo humano virtual blogueano, seria me concedida-me (ainda me confundo com pronomes) uma língua
para que pudesse me comunicar. Resolvi optar pelo português, lindo idioma, de
um dos meus escritores preferidos, Fernando Pessoa. Fernando me deu um certo
trabalho, visto que era mais de uma pessoa. Todas numa só, mas mais de uma. E
temos outros tantos Mestres da Língua Portuguesa. Guimarães Rosa com seu
dialeto literário baseado no falar de Manulezãos e Miguelins. Machado de Assis
e sua ironia aguçadíssima. Mia Couto e suas memórias africanas de beleza
parabólica. Camões, construtor e pintor da história do Novo Mundo, das mudanças
de tempos e mudanças de vontades. José Saramago, que comprovou mais uma vez
para os homens que o maior cego é aquele que não quer ver. Manoel de Barros e
seu linguajar nato de latas e pneus velhos, quinquilharias, moscas, sapos,
curvas de rio e crianças de alta inventividade. E mais um tanto de
transformadores do português do dia a dia com suas litero-gírias. “Gosto de
sentir minha língua roçar a língua...”. E por falar em língua, não acredito em
melhor exemplo de coisa que se transforma e se mistura. Se transforma a língua
idioma, se misturam as línguas dos micareteiros. E por falar em transformação,
lembrei que, além da célebre frase de Lavoisier citada na música do Drexler “na
mundo nada se perde, tudo se transforma”, tem outra, uma tirada do genial Mario
Quintana: alguém havia perdido a carteira, quando Quintana disse: “no mundo
nada se perde, tudo muda de dono”. Hoje estou me sentindo uma DOR no sentido literário...
Música do Dia: Poema
em Linha Reta (Arrigo Barnabé / Fernando Pessoa)
Bicho do Dia: Pavão
(1976)
Nenhum comentário:
Postar um comentário