O poeta falou certa feita que
ser mãe é padecer no paraíso. Eu posso dizer com toda propriedade que o dito
confere. Quando eu bato na porta dos filhos, eles sempre vêm atender com as mães
os segurando pela mão. Dói mais nelas que neles. Em tempos como esse é de se
pensar muito antes de ter filhos. Pensar antes, pois espermatozoides e óvulos,
até onde eu sei, não pensam, agem por instinto. Mas eu não to aqui pra dar
lições de moral, meu ofício é cobrar depois e eu cobro mesmo. Gostaria muito de
ter uma mãe, pois quando vejo os filhos exaltando suas mães e as mães fazendo
comidinhas, bolinhos, dando colinhos e outros mimos para os filhos, sinto uma
certa inveja. Respeito muito às mães, pois acho que são os seres humanos para
os quais mais eu me apresento. Ser mãe não é fácil. Não é fácil nem para as
mães que deixam seus filhos recém-nascidos em cestas nas portas dos outros. Lembro-me
de uma frase marcante de uma mãe que resume todo o sentimento de preocupação de
quem não pode proteger seu rebento depois que ele cresce e ganha o mundo. Foi
proferida dentro de um carro na cidade de Cachoeira do Sul. A mãe da história é
a mãe do Sandro Dornelles e foi ele mesmo que fez a pobre mãe proferir tal
frase. Sandro morava então na capital gaúcha e naquele fim de semana tinha a
ido para o interior dar uma notícia aos seus pais. Primeiro falaria com a mãe,
pra ela ajudar a preparar o terreno pra falar com o pai, que seria jogo mais
duro. Dentro do carro, indo visitar uma
tia, a mãe dirigindo e ele no banco do carona. Antes do diálogo é bom lembrar
que Sandro, embora já morasse na capital, estava de certa forma perto da
família. Dentre os quatro filhos, o
então jovem artista Sandro era a preocupação maior da mãe, visto que era dado a
boêmia profunda, regada a jogos de azar, bebidas, cigarros e outras coisas que
só a noite sabe oferecer de bandeja. Voltemos ao dialogo. Sandro proferiu:
-
Mãe, preciso te dizer uma coisa.
Mãe:
-
Fala filho:
Sandro:
-
Vou me mudar pro Rio de Janeiro daqui 6 meses.
Mãe,
sem tirar os olhos da estrada e sem mexer um músculo:
-
Ai...
O
filho da puta do Sandro (como todo respeito à senhora sua mãe) teve vontade de
rir, mas ao mesmo tempo teve pena, pois aquele suspiroso “ai...” saído da boca
de sua mãezinha parecia ser o suspiro uníssono da aflição de todas as mães do
mundo.
Música do Dia: Si, Si, No, No (João
Bosco)
Bicho do Dia: Cachorro (9720)