Novas Histórias

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Foto de Ju Vinagre

sábado, 22 de março de 2014

81º Dia: Edifícios Residenciais

                  Pois é, os prédios hoje aparecem do nada. Você passa na rua num dia e vê um terreno baldio, no outro já tem um arranha-céu com porteiro e um garagem com aquela sirene chata que faz parar teu caminhar na calçada para que um carro saia e ganhe a rua. Incrível. Parece que e prédio tava ali invisível e que num passe de mágica tornou-se visível. Só que quando se vê os preços dos imóveis e dos aluguéis em cidades levantadoras de edifícios como Rio de Janeiro e São Paulo, cria-se um paradoxo: acho que até tem gente pra morar nesse tanto de prédio, mas será que tem tanta gente assim com grana pra morar nesse tanto de prédio? Não creio, não. É uma puta grana que se deixa por mês por uns míseros metros quadrados com vista para sovaco do vizinho do edifício da frente com uma trilha sonora de arrotos, peidos e cusparadas do vizinho do lado, visto que as paredes divisórias tem alma de compensado, embora pareçam outra coisa. A euforia dos cambistas com ingressos para partidas de futebol é equivalente a dos especuladores imobiliários com seus apartamentos e prédios. Eles têm o poder de impor o chamado preço artificial para os seu bens. Enquanto isso, os bem menos abastados vão se apropriando dos terrenos abandonados das prefeituras para construírem suas casas e terem o mínimo de dignidade para viverem. Na vida real alguns desses lugares “pegam fogo”, são destruídos sob os protestos dos moradores que são expulsos pela polícia ou por alguma devastadora força da natureza. Na literatura temos a invasão do Morro do Mata Gato em “Os Pastores da Noite” de Jorge Amado; em Macondo a compra de terras baratas para a construção de redes hoteleiras para turistas, expulsou e deixou sem terra, sem trabalho e sem dignidade os moradores da cidade fictícia de Gabriel Garcia Marques, que viraram carne de subemprego e depois viraram carne de bala de armas de fogo no maior massacre de grevistas da Literatura mundial escrito em “Cem Anos de Solidão”. Ah, DOR vai dar uma de defensora dos fracos e dos oprimidos? Esbravejam os raivosos. Não, só não sou cega. E o mais impressionante é que, tanto na vida real quanto na vida ficcional, a música cantada por todos que são o lado mais fraco do cabo de guerra das moradias é a mesma, composta pelo amigo do Hevê Cordovil, do Joca e do Mato Grosso. “Não reclama, porque a chuva só levou a tua cama...”. Metáfora ótima para os saem “com uma mão atrás e outra na frente” e vão levantar outra maloca em outro lugar. Viu, Sandro Dornelles? Eu também tenho meus momentos de ira para com imobiliárias e afins. Sinta-se homenageado.

Música do Dia: Iracema (Adoniran Barbosa) https://www.youtube.com/watch?v=wtP3dTexAbE&feature=kp

Bicho do Dia: Abutre (O vilão do Homem Aranha ou aquele da foto que espera o menininho morrer de fome no Sudão e que levou o fotógrafo ao suicídio). http://www.jn.pt/PaginaInicial/Media/Interior.aspx?content_id=1789058&page=-1

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