Novas Histórias

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Foto de Ju Vinagre

sexta-feira, 28 de março de 2014

87º Dia: Coração Materno

                  O poeta falou certa feita que ser mãe é padecer no paraíso. Eu posso dizer com toda propriedade que o dito confere. Quando eu bato na porta dos filhos, eles sempre vêm atender com as mães os segurando pela mão. Dói mais nelas que neles. Em tempos como esse é de se pensar muito antes de ter filhos. Pensar antes, pois espermatozoides e óvulos, até onde eu sei, não pensam, agem por instinto. Mas eu não to aqui pra dar lições de moral, meu ofício é cobrar depois e eu cobro mesmo. Gostaria muito de ter uma mãe, pois quando vejo os filhos exaltando suas mães e as mães fazendo comidinhas, bolinhos, dando colinhos e outros mimos para os filhos, sinto uma certa inveja. Respeito muito às mães, pois acho que são os seres humanos para os quais mais eu me apresento. Ser mãe não é fácil. Não é fácil nem para as mães que deixam seus filhos recém-nascidos em cestas nas portas dos outros. Lembro-me de uma frase marcante de uma mãe que resume todo o sentimento de preocupação de quem não pode proteger seu rebento depois que ele cresce e ganha o mundo. Foi proferida dentro de um carro na cidade de Cachoeira do Sul. A mãe da história é a mãe do Sandro Dornelles e foi ele mesmo que fez a pobre mãe proferir tal frase. Sandro morava então na capital gaúcha e naquele fim de semana tinha a ido para o interior dar uma notícia aos seus pais. Primeiro falaria com a mãe, pra ela ajudar a preparar o terreno pra falar com o pai, que seria jogo mais duro.  Dentro do carro, indo visitar uma tia, a mãe dirigindo e ele no banco do carona. Antes do diálogo é bom lembrar que Sandro, embora já morasse na capital, estava de certa forma perto da família.  Dentre os quatro filhos, o então jovem artista Sandro era a preocupação maior da mãe, visto que era dado a boêmia profunda, regada a jogos de azar, bebidas, cigarros e outras coisas que só a noite sabe oferecer de bandeja. Voltemos ao dialogo. Sandro proferiu:
- Mãe, preciso te dizer uma coisa.
Mãe:
- Fala filho:                                                                                     
Sandro:
- Vou me mudar pro Rio de Janeiro daqui 6 meses.
Mãe, sem tirar os olhos da estrada e sem mexer um músculo:
- Ai...
O filho da puta do Sandro (como todo respeito à senhora sua mãe) teve vontade de rir, mas ao mesmo tempo teve pena, pois aquele suspiroso “ai...” saído da boca de sua mãezinha parecia ser o suspiro uníssono da aflição de todas as mães do mundo.

Música do Dia: Si, Si, No, No (João Bosco)

Bicho do Dia: Cachorro (9720) 

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