Novas Histórias

Novas Histórias
Foto de Ju Vinagre

quinta-feira, 31 de julho de 2014

212º Dia: Jardim da Fantasia

                  Quantos temas, quantas ideias, quantos assuntos criativos me vem à mente com um título tão instigador como esse: Jardim da Fantasia... Tô pasma! Me rebuliça tanto a imaginação  que fico sem palavras pra escrever.
Ps.: Me dei ao direito de ser uma escritora canalha como um revide aos últimos sumiços canalhas da Inspiração. E outra coisa: NESSE BLOG EU ESCREVO O QUE EU QUISER, VIU SANDRO DORNELLES?

Música do Dia: Molambo (Jamelão) (De: Jaime Florence (Meira) / Augusto Mesquita).

Bicho do Dia: Galo (2350).

quarta-feira, 30 de julho de 2014

211º Dia: Posso Perder Minha Mulher, Minha Mãe, Desde que Eu Tenha o Meu Rock’n’ Roll.



                  Não manjo muito de perdas. Sei de prestar meus serviços a vocês, humanos, quando sofrem com tais perdas. Sei também que sujeitos que perdem a mãe, a irmã e o rock podem sofrer tanto quanto quem perde um brinco, assim como outros dão a perda de um brinco a mesma importância de quem dá o real valor a perda de uma mãe, uma irmã ou o rock. Engraçados, vocês, humanos. Trágicos nas horas cômicas e cômicos nas horas trágicas. A alma barroca do existir é perene. A única coisa que tenho um certo receio de perder é o fio da meada, a trama dos meus escritos que diariamente começo sem saber onde vão dar. E se Deus escreve certo por linhas tortas, me permito escrever torto por linhas certamente duvidosas. Vejam só, essa última frase que escrevi foi totalmente desnecessária, uma inversão de ditado besta. Vai ver, uma tentativa inconsciente de entender e encontrar a perda, mas melhor que nos entendamos assim: vocês com suas perdas e meu consolo; e que eu encontre, por hora, o ponto final. Olha ele ali!

Música do Dia: Jardim da Fantasia (Paulinho Pedra Azul).

Bicho do Dia: Avestruz (5603).

terça-feira, 29 de julho de 2014

210º Dia: Batidão


                 O vento batia forte. Forte mesmo. Forte demais. Primeiro levantaram voo as telhas das casas e depois as casas. E tudo foi levantando voo. Nesses rodopios que misturavam os insustentáveis do mundo, plantações enormes de limões chocavam-se com comboios de alambiques que chacoalhavam junto com geleiras e icebergs e mega tijoladas de açúcar. E a Terra engoliu o batidão todo e saiu de órbita, acordando com uma enorme dor de cabeça na sarjeta de uma outra galáxia.

Moral da História: O que a Terra bebe é o que a Terra mija ou versa e vice.


Música do Dia: Posso Perder Minha mulher, Minha Mãe, Desde que Eu Tenha o Meu Rock’n’ Roll (Mutantes) (De: Arnaldo Dias / Rita Lee / Liminha).

Bicho Do Dia: Veado (5596).

segunda-feira, 28 de julho de 2014

209º Dia: Nega Dina (Diz que fui por aí)


                 No lesco-lesco da roupa no tanque Nega Dina batucava lundus, funks, sambas e mais um tanto de coisas de muito ontem e de muita pós-atualidade. Isso muito antes de se auto presentar com a alforria e sair pra correr mundo. Foi assim: pegou um sonho e partiu. Só que o batuque findado no lesco-lesco, continuou com ela porque era dela o batuque de tudo. Seu falar, seu ronronar no sono, seu caminhar. Ela entrava pelos sete buracos da cabeça de que a visse. Sua presença morena suingava mais a vida enquanto ela singrava os mares do por aí do mundo. Quando ela partia mais uma vez deixava para os que ficavam, a pergunta: qual será o paradeiro daquela que até agora não voltou? “Ziriguiduns da existência” dizia Nega Dina no seu riso alto de acid jazz. E partia de novo. Blues and soul. No seu groove incansável, um dia se foi para sempre e o chão tremeu batucadamente ante os ouvidos moucos da Escala Richter.

Música do Dia: Batidão (Anna Tréa).

Bicho do Dia: Coelho (4839).

domingo, 27 de julho de 2014

208º Dia: Clandestino


                Um clandestino, criminoso ou não, é tratado como tal pelas autoridades. Costumo acompanhar esses pobres, uns pela saudade de sua terra natal, outros pelas atrocidades que comentem contra outrem. A mim não interessa o motivo, cumpro meu dever e pronto, não preciso de bom senso, as autoridades sim. Uma vez fui visitar um clandestino bem jovem, imigrante ilegal que sofria de saudades dos seus que tinham ficado num país pobre da África. Ele já estava com saudade até da pobreza de lá, que era uma pobreza diferente da que vivia agora. A miséria de agora tinha requintes de crueldade. Este jovem era mais um ser perdido, longe de sua pátria, mão de obra barata no novo país, perseguido, mal visto e se alimentando do pão que o diabo amassou. Um dia ele decidiu que voltaria para sua casa. Dois sujeitos o convidaram para assaltar uma joalheria. Dividiriam o ganho do roubo e ele voltaria pra casa. Com o trabalho que tinha não juntaria dinheiro nem se trabalhasse durante sete vidas. Topou ser comparsa no assalto. Foi um ato de desespero. A caminho da joalheria a única coisa em sua mente era não desistir. Seria só essa vez e voltaria pra casa de onde nunca deveria ter saído. Pôs o capuz e entrou na joalheria. Papéis picados e línguas de sogra surgiram do nada e todos bateram palmas para ele. As pessoas o abraçavam, choravam e se mostravam condescendentes com a situação do jovem clandestino que só deu conta do que acontecia quando viu as câmeras filmando sua cara de palhaço. Sim, aquilo era uma pegadinha da TV. Todos riam. Ele pensou em abrir fogo contra todos e dar um show de verdade, mas certamente a arma que seus comparsas lhe tinham dado estava carregada com balas de festim.

Música do Dia: Nega Dina – Diz que fui por aí (Zé Keti)
Bicho do Dia: Camelo (1232).

Filme da Semana: Nove Rainhas (Direção: Fabian Bielinsky). 

207º Dia: Get up, Stand Up


                  Esse texto é o texto de ontem, que infelizmente não me foi possível publicar. Consegui através de meios que não vem ao caso explicar, uma maneira de desfrutar dos prazeres do sono, tão comum a vocês, humanos. Gostei demais. Dormi mais que a cama, como costumam dizer. E nessa dormição toda, em meio a espreguiçamentos, bocejos e todos os demais relativos ao mundo do sono, se foram o dia todo de ontem e quase todo o de hoje. Da próxima vez que me for dado o desfrute de tal deleite, que no frio é mais gostoso ainda, disseram que vou poder provar dos prazeres dos sonhos e dos pesadelos. Sonhos é um assunto que realmente desconheço. Já pesadelo, como vocês bem sabem, é uma fantasia que visto com muita mais frequência do que gostaria. Durmam com os anjos, mas não com aqueles das cornetas, trombetas, ou sei lá que “etas” que aqueles querubins barulhentos anti-sono que me despertaram agora a pouco tocam. E enquanto todos se preparam pra dormir, estou eu aqui levantando. GET UP! Sem stand up porque meu humor agora não está pra essa estirpe de gracejos.

Música do Dia: Clandestino (Manu Chao).

Bicho do Dia: Urso (9390).

quinta-feira, 24 de julho de 2014

206º Dia: Estrada da Vida


                  Ela ainda estava distante da estrada da vida. Os caminhos eram pedregosos, pantanosos e escuros. Certamente acharia a luz e a estrada. Era a certeza dela e a esperança de todos os que a olhavam na incubadora. Muitos anos depois, no final da estrada da vida, ela ainda lembrava sorridente daquela certeza.

Música do Dia: Get Up, Stand Up (Bob Marley).

Bicho do Dia: Gato (6856).

205º Dia: Hora Errada


                  Já entendi que coisa difícil pra vocês, humanos, é lidar com a frustração. Em alguns momentos é tanta que até eu sou acionada. Infelizmente, ainda não tem remédio nem prevenção, pelo simples fato de que ela não avisa e chega sempre na hora errada. Alguns dizem que “é só não criar expectativa”. Mentira! Quem não cria expectativa tá de paumolescência. Há de se mergulhar de cabeça e pagar pra ver. E poderá ver coisas não tão bacanas, mas como disse o poeta “qual é graça de saber o fim da estrada quando se parte rumo ao nada?”. Enfim, a frustração, por pior que seja, pode moldar o caráter se você matá-la no peito deixar rolar até o pé chutá-la pra bem longe num traçado paralelo ao da nova meta que surgirá no mesmo instante.
Ps.: Gostaria de dizer que estou aberta a propostas de contração pra escrever na página de autoajuda desses jornaizinhos que aí estão, de preferência coladinho na sessão que divulga as pesquisas de intenção de voto.

Música do Dia: Estrada da Vida (Milionário & José Rico) (De: José Rico).

Bicho do Dia: Carneiro (6027).

quarta-feira, 23 de julho de 2014

204º Dia: Feira de Mangaio


                    Deus resolveu que queria uma Feira de Mangaio no céu. Uma espécie de filial. Então mandou seu Anjo da Morte para Terra com a incumbência de trazer mais gente pra povoar a feira. Ao ouvir tal ordem do Criador, o Anjo falou:
- Nunca matei Alves, nunca matei Ubaldo, nunca matei Suassuna. Muito menos três escritores juntos. Mas se tem que matar, eu mato.

Deus ralhou com o Anjo - que ao invés de trazer as criaturas, trouxe os criadores -, e desceu para a Terra pra tentar consertar o erro. Encontrou Chicó e João Grilo numa esquina e comprou deles uma gaitinha que fazia ressuscitar. Ninguém ressuscitou, mas de tanto Deus tocar a tal gaitinha, começou a chover livros.


Música do Dia: Hora Errada (Élio Camale).

Bicho do Dia: Águia (0004).

terça-feira, 22 de julho de 2014

203º Dia: Eu me Acerto


                  “Eu me acerto!” deve ter sido a frase mental-gestual proferida pelo primeiro hominídeo após lançar o primeiro bumerangue.  

Música do Dia: Feira de Mangaio (Clara Nunes / Part. Esp.: Sivuca) (De: Sivuca / Glorinha Gadelha).

Bicho do Dia: Borboleta (4015).

segunda-feira, 21 de julho de 2014

202º Dia: Piercing


                  As moças que gostam de piercings no umbigo, me perdoem, pois o que vou escrever a seguir é apenas uma preferência estética minha. Piercings até que caem bem em diversas partes do corpo das mulheres, mas no umbigo não, por favor. O umbigo é o centro do corpo. Todos os caminhos do paraíso levam para o umbigo, assim como do umbigo se parte para todos os paraísos do corpo feminino. Um piercing no umbigo é uma espécie de redoma, é uma coisa que reflete o sol e ofusca os olhos, privando-os de uma visão de rara beleza. Moças do mundo, não prendam seus umbigos em piercings. Deixem os pobres respirarem, eles querem ser admirados, tocados para que sintam cócegas e beijados. Se os umbigos entrarem em extinção, o mundo jamais será o mesmo. Sem falar que toda vez são furados, lá vou eu, com muito pesar, fazer o meu trabalho.

Música do Dia: Eu me Acerto (Zélia Duncan).

Bicho do Dia: Avestruz (2803).

domingo, 20 de julho de 2014

201º Dia: Três da Madrugada


                Três da Madrugada é a minha hora dormir. Minha hora morta. Apago às 03:00 e desperto às 03:59, mas cada dia num fuso-horário diferente que não divulgo, para que vocês, humanos, não se metam a besta e saiam por aí fazendo merda a torto e a direito nesse quase minuto que sumo. Sim, porque oh especiezinha que tem talento pra fazer merda. Eu, a DOR, que o diga. E se algum espertinho quiser tentar a sorte e quiser dar uma de super-homem às três da madrugada em algum lugar do mundo, faça-o. Agora, saiba que eu sou meio que nem o Diabo, quando eu não vou, sempre mando o secretário.

Música do Dia: Piercing (Zeca Baleiro) (Part. Especial: Faces do Subúrbio). (Homenagem aos colaboradores do Dia, o casal Auro Assis & Selma Rosa e sua filhinha linda de 6 meses de belezura, Mariana).

Bicho do Dia: Cavalo (2741).

sábado, 19 de julho de 2014

200º Dia: Os Anjos Caídos


              Existe uma outra versão sobre os Anjos Caídos. Eles não seriam anjos rebeldes que foram expulsos do convívio com Deus para virarem demônios que infernizam os homens. Na verdade, nessa outra versão não existe nem Deus, nem homens, nem bem, nem mal. Existiam só anjos mesmo. Um anjo que não é um anjo propriamente dito. Anjo é uma espécie de lagartixa que nasce de 10 em 10 mil anos numa Ilha minúscula que é ligada por um istmo a parede invisível que vai até o céu. A tarefa desses Anjos não é fácil. Assim que nascem, eles se dirigem instintivamente até o tal istmo. Depois de árdua caminhada e já adolescentes chegam ao istmo e por ali ficam se alimentando por 2 mil anos para fortalecerem as ventosas que as levarão parede invisível acima em direção ao céu. Quando chegam à parede eles ficam olhando pro céu por mais 2 mil anos. A partir daí começam a escalada. Exatos 6 mil anos depois quando estão a poucos metros de atingir o céu elas desabam. Não por cansaço, mas porque as lagartixas Anjo findam seu tempo de vida em exatos 10 mil anos. E quando uma desaba do quase céu, outra já está começando sua improfícua jornada lá embaixo. Entretanto, dizem que o penúltimo Anjo que fez tal jornada, sabendo que não chegaria ao céu, se jogou do quase céu minutos antes de morrer, para, ao invés da frustração, ter como última lembrança o prazer de voar antes de se esborrachar no chão. Por razões ainda desconhecidas, o último Anjo conseguiu chegar ao céu, mas entediou-se no almejado lugar e se jogou também. E assim começou a surgir uma nova espécie de pássaro conhecida pelo nome de Demônio.

Música do Dia: Três da Madrugada (Gal Costa) (De: Torquato Neto / Carlos Pinto).

Bicho do Dia: Peru (9880).

sexta-feira, 18 de julho de 2014

199º Dia: Chão de Ninguém


             O Chão perdeu a paciência e resolveu que mais ninguém o pisaria dali por diante. As pessoas começaram a andar plantando bananeira e o mundo ficou de ponta cabeça. O céu sorriu vendo aquele monte de plantas de pés e mandou um batalhão de nuvens fazer cócegas neles. O Chão acabou sorrindo também quando viu que as pessoas se deram conta que não sendo ele de ninguém, poderia ser de todo mundo. Um escritor que assistia aquilo tudo, deixou que suas asas crescessem e alçou voo para as bandas da esperança.

Música do Dia: Os Anjos Caídos (Cordel do Fogo Encantado).
Bicho do Dia: Leão (6663).
Livro do Dia: Sargento Getúlio (João Ubaldo Ribeiro).

quinta-feira, 17 de julho de 2014

198º Dia: Rebichada


                 Tem dias que fico olhando a palavra título do texto do dia e não me vem nada na cabeça. Ficamos assim, palavra olhando pra mim e eu pra ela e nada acontece entre a gente. Nem um bom dia ou um “tudo bem?”.  Ficamos nos analisando como se fôssemos pessoas de civilizações que nunca tinham se cruzado antes. Como pode um negócio desse? E o branco da tela do Word ulula, um branco glacial, frio, só a palavra título me olhando e um constrangimento crescente. Não falamos nem uma língua parecida, a palavra título e eu. Nem linguagem de sinais. Nem um beijinho. Ela não me diz nada e eu não digo nada pra ela.  E existe a obrigação do texto e o tempo não para para que travemos um diálogo monossilábico que seja. Recorro a alguns seres que me inspiram com suas histórias absurdas, ridículas ou sei lá que adjetivos possam me ser inspiradores porque nesse exato instante travarei a batalha descrita acima. Fui ver o Sandro Dornelles, mas ele está tão esfuziante com suas viagens musicais pelo Brasil, em estar revendo a cidade do Rio e os amigos queridos que ele não via há tempos, que chega a ser chato. O Sandro ridículo e absurdo me é mais inspirador que este com uma cara meio ressaca meio festiva que beira o abobalhamento. Enfim, deixemos o Sandro pra lá. Vou encarar meu desafio diário. Por hora estamos assim: eu olho pra Rebichada, a Rebichada olha pra mim e nada.

Música do Dia: Chão de Ninguém (De: Walter Fernandes) (Com: Guidi Vieira & Caio Márcio) Minha única inspiração do dia pelo show lindo que fizeram ontem).

Bicho do Dia: Borboleta(1514).

quarta-feira, 16 de julho de 2014

197º Dia: Mundo Animal


               A vida dele era uma fauna. Todo santo dia jogava no bicho. Depois de um carrossel de Withe Horse, Gato Preto, Periquita, Cura Veado, Leite de Onça, Pitu, SapOpara, Rabo de Galo, Sangue de Boi e mais um tanto de animais etílicos que atacavam seus pés de galinhas, seu bico de papagaio, sua dor de cabeça de cão, sua língua de cobra, sua fome de leão, seu espírito de porco, sua pança de mamute e mais um tanto de bichos que habitavam seu corpo,  ele acabou com o fígado em calda. Hoje vive feliz entre elefantes cor de rosa.

Música do Dia: Rebichada (Chico Buarque & Os Trapalhões) (De: C. Buarque / Enriquez / Bardotti) (Uma homenagem ao colaborador do Dia, Fernando Falcão).

Bicho do Dia: Qualquer um (pode ser o número da placa de um carro a seu gosto).

terça-feira, 15 de julho de 2014

196º Dia: Cobra Criada


                   Numa briga entre uma cobra criada, um macaco velho e um cachorro grande, não vi saírem vencedores nem vencidos, mas a cobra saiu mais criada, o macaco mais velho e o cachorro “mais grande”.
Moral da História: Sapo no brejinho é sapão e no brejão é sapinho ou se você quer ser melhor numa coisa, procure gente melhor que você nessa coisa ou é, a maioria de vocês, humanos, já sabia disso.

Música do Dia: Mundo Animal (Mamonas Assassinas).

Bicho do Dia: O terno aí de cima: Cobra, Macaco e Cachorro (9135, 5766, 3717).

segunda-feira, 14 de julho de 2014

195º Dia: Da Da Da


                 As pessoas do Reino situado num ponto equidistante entre o Báltico e o Índico não eram muito dadas a conversas. Nesse lugar ninguém mesmo dava bom dia pra cavalo e jogar conversa fora era o maior dos desperdícios. Não era por preguiça ou turrice, mas pelo fato de que quase todos os sons linguísticos e suas combinações haviam sido roubados. Sobraram apenas o “d” e o “a”. Ironia do destino, formavam a sílaba “da” que não dava pra falar quase nada. A combinação “ad” do latim também já havia caído em desuso em tal Reino. A privação de sons linguísticos fez com que os habitantes desenvolvessem uma língua que ficou conhecida como “Da Da Da”. Dependendo da entonação e do gestual que a acompanhava, cada “da” tinha um significado. Algo que em alguns aspectos lembrava o chinês. Assim a língua “Da Da Da” foi evoluindo durante o correr dos séculos. Nas escolas os professores contavam para as crianças a lenda do temido monstro Saussurechoms (dificílimo de se pronunciar em  Da Da Da) que se alimentava de sílabas e que viria de longínquas terras flutuantes para roubar do Reino os dois únicos sons linguísticos ainda existentes. As crianças morriam de medo, mas depois entoavam canções em linguagem gutural como se fosse uma espécie de encanto para espantar uma possível aproximação do temido monstro comedor de sílabas.

Música do Dia: Cobra Criada (João Bosco, o aniversariante de ontem). (De: J. Bosco / Paulo Emílio).

Bicho do Dia: Cobra (Aquela de 3 cabeças que era o bicho de estimação do Monstro Saussurechoms).

domingo, 13 de julho de 2014

194º Dia: Mariposa Tecnicolor


                 A Mariposa odiava sua pele em preto e branco. Todos a chamavam de bruxa. Nos rodopios ao redor das luzes, imaginava o quanto seria mais bela se tivesse as cores de uma borboleta. Depois de muitas sessões de técnicas de colorimento, conseguiu ficar artificialmente colorida. Agora, nos círculos sociais não a chamavam mais de bruxa e sim de Tecnicolor. Foi amor à primeira ouvida. Para ela a sonoridade do novo nome era tão bela quanto suas novas cores. Entretanto, quando voltava para casa feliz pelas ruas da cidade, em seus rodopios festivos ao redor das luzes dos postes, foi apanhada por um predador. Ele falou:
- Adoro borboletas no jantar.
- Mas eu não sou uma borboleta, sou uma mariposa, disse chorando.
- Boa tentativa, mas mariposas não são coloridas e nem andam dando sopa assim à noite.
E devorou a mariposa tecnicolor antes que ela explicasse a sua história. Logo em seguida regurgitou tudo e cuspiu. Pois viu que realmente o gosto das cores era falso.

Música do Dia: Bom, ontem pus a música de um compositor argentino, então hoje vamos de Alemanha:
Bicho do Dia: Borboleta (7316).

Filme da Semana: O Sétimo Selo (Ingmar Bergman).

sábado, 12 de julho de 2014

193º Dia: Me Lambe


Em tempos de fiascos com números que estão mais para cabulosísticos do que pra cabalísticos, de misturas de raças e de cores também por conta do futebol e de outros acontecimentos que tenho narrado aqui, me dou o direito de me abster de mais comentários e abrir o microfone para o meu amigo MEDO, expert em assuntos de ordem variada:
“Findado o festival de virundangas do vexame de que todos falavam – das redes sociais de Sampa às redes antissociais dos pescadores de Itacaré – passei por sete botecos do tipo “copo sujo” e vi um motivo pra me retrair: cansaço. Estava vindo de uma série de compromissos que me tomaram o mês e já não aguentava mais trabalhar. Eu não sou como as minhas amigas divas que mesmo tendo muito trabalho podem esvair-se nas névoas mágicas da indiferença, deleitar-se em lagos mansos de lamúrias, tripudiando da humanidade sem dó, deitadas em travesseiros de pena de ganso: eu sou braçal. Eu sou peão de obra. Eu sou povão. Passei semanas causando frio na barriga dos que precisavam ver o campeonato acabar pra que a vida voltasse ao normal, pra que conseguissem um novo emprego ou dessem continuidade aos seus projetos que foram pausados em virtude da necessidade de comemorar a vitória que não veio. Gastei minhas energias pra que alguns não roessem os dedos na hora de um pênalti, pra que outros não se enfiassem embaixo do viaduto como fez a motorista que puxou o freio do ônibus em Minas. O trampo foi frenético e eu precisava me desligar. Entrei no cinema, o filme não era do Godard, mas era quase. Uma pequena sentou do meu lado e de seu lado o cara sério de camisa amarela com cara séria. Amasso vai, atracamento vem, escuto um “Me lambe!” com sotaque alemão e, em resposta um “Não dá, tenho medo!”. Do que seria o medo? Do lanterninha? Dos contra exploração sexual das brasileiras pelos gringos ou dos a favor da miscigenação? Vieram-me mais seis possibilidades. Fui embora pra felicidade geral. Concluí que o único jeito de repousar a esqueleta era ir pra casa e rezar pra moça lamber, mas não morder.”
Descanso merecido, meu caro amigo MEDO, e creio que entre lambidos e mordidos, estão todos salvos, visto que não precisaram dos meus serviços.
Música do Dia: Mariposa Tecnicolor (Fito Paez).
Bicho do Dia: Cabra (1124).

*Virundangas é um termo da literatura de Guimarâes Rosa e significa "badulakes" usados na indumentária de personagens com transtornos mentais.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

192º Dia: O Vento


               Hoje visitei uma criança em sala de aula que apertou o dedo na porta. Tadinha. Era uma aula de ciências. A profe falou: “Gente, vento é o ar em movimento. Ele leva as areias das dunas de um lado pro outro, move as nuvens, dá forma às ondas, seca as roupas no varal, leva os polens das flores para que germinem em outros lugares...” e foi falando todas as qualidades do vento, dos tufões, das brisas. Foi quando a criança do dedo machucado, ainda com uns respingos de lágrimas nos olhos, perguntou:
- Profe, pelo jeito a senhora conhece muito bem o vento, né?
- Sim, claro.
- E ele assopra, não assopra?
- Sim, claro.
- Então chama ele pra assoprar meu dedo e mandar essa DOR embora?
Nem precisou o vento chegar, frente a pedido tão inusitado fui embora por conta própria, pois já me esperava outra criança triste que havia perdido a pipa novinha para um vento bravo num terreno baldio perto da escola. De onde concluí que quando eu bato o vento assopra e quando ele bate sobra pra mim do mesmo jeito.

Música do Dia: Me Lambe (Raimundos) (De: Fred / Rodolfo / Digão).

Bicho do Dia: Condor (Aquele que planando ao vento se apaixonou pela Asa-Delta).

quinta-feira, 10 de julho de 2014

191º Dia: Eu Tô Voltando


                  O Tempo começou a gritar aos quatro ventos: Eu tô voltando! Ninguém deu bola. Aquilo já era coisa do passado.

Música do Dia: O Vento (Los Hermanos) (De: Rodrigo Amarante).

Bicho do Dia: Carneiro (9325).

quarta-feira, 9 de julho de 2014

190º Dia: 6 Minutos


                  6 minutos antes de acabar o mundo ninguém mais acreditava na salvação. Resignados olhavam para o céu enquanto o planeta mil vezes maior se aproximava. Foram os minutos mais belos que já se viu. Cada segundo tinha um sabor eterno, um gosto de infinito. Todos sentiram de verdade o prazer de estarem vivos, perto de quem gostavam, pensando no quanto brigaram por besteira e que como dali pra frente tudo poderia ser diferente se tivessem uma segunda chance. Infelizmente não tiveram.

Música do Dia: Eu to Voltando (Simone) (De: Maurício Tapajós / P.C. Pinheiro).
Bicho do Dia: Macaco (5766).

terça-feira, 8 de julho de 2014

189º Dia: Virtual Insanity

           A insanidade virtual reflete a insanidade do mundo real? A pergunta inspira uma resposta óbvia: claro. Entretanto, o mundo virtual, - e eu sou um exemplo disso - dá possibilidades a que outros mundos venham à tona. Uma infinidade de mundos. A mente humana precisava de novos espaços para conquistar, já que os existentes já foram conquistados por terra, por mar e os espaciais dependem de tecnologias ainda inexistentes, e inventou o mundo virtual e suas infinitas possibilidades. O problema é que os mundos conquistados (inventados) criam suas defesas e suas realidades paralelas. Ou seja, criam vida própria e começam a interferir na vida dos mundos conquistadores (inventores). Sim, a velha história criador-criatura. Hoje, pude ver a insanidade virtual invadir o mundo real e deixar pasmo até o maior dos pessimistas. Ou dos otimistas, dependendo da cor da camisa que estiverem vestindo ou não vestindo. Sim, a virtualidade dos jogos de vídeo games invadiu a realidade do campo de uma das semifinais da Copa do Mundo. Porque 7 x 1, mesmo pra mim que já vi de tudo, é sim uma insanidade.

Música do Dia: Seis Minutos (Otto).

Bicho do Dia: Que bicho representa a insanidade?

segunda-feira, 7 de julho de 2014

188º Dia: Próton, Elétron, Nêutron


                  Eles nasceram todos na mesma rua. Próton morava na rua de cima, Elétron na rua de baixo e Nêutron na rua do meio. Eram inseparáveis e assim continuariam não fosse o Átomo aparecer na história. Átomo se aproximou dos três amigos e começou a criar intrigas entre eles. Acabaram brigando feio e ficaram fora de órbita. Próton foi morar nas planícies baixas da Filosofia. Elétron foi para as areias mortas da Matemática e Nêutron ficou morando em cima do Muro das falésias da Literatura. Eram lugares totalmente inóspitos para eles. Acabaram morrendo. O Átomo era possuidor das pílulas da Interdisciplinaridade que teriam facilmente os salvado, mas preferiu ingeri-las sozinho. Foi uma dose cavalar e átomo também acabou morrendo. Alguns amigos mais próximos dizem que Átomo começou a ter tendências suicidas desde o dia em que conheceu os três amigos.

Músicas: Virtual Insanity (Jamiroquai).

Bicho do Dia: Cachorro (1417)

domingo, 6 de julho de 2014

187º Dia: Bola de Meia, Bola de Gude


                Bom, então hoje, quase não sendo mais hoje, vamos ao texto.
Na mão de crianças, objetos como esses do título é que abrem os portais que dão passagem para o mundo dos sonhos. 

Música do Dia:  Próton, Elétron, Nêutron (Marcos Valle e Ana Maria Valle) (De: Marcus Valle e Paulo Sérgio Valle).

Bicho Do Dia: Jacaré (2160).
Fime da Semana: Desconstruindo Harry (Wood Allen).

186º Dia: Fogo Sobre a Terra


               Sim, este não é o texto de hoje, que publicarei daqui a pouco. Este é o texto de ontem. Pela primeira vez não cumpri com meus deveres diários de blogueira. Peço desde já desculpas aos meus leitores fiéis. Mas é que ontem não caiu fogo sobre a terra, mas é como se caísse. O Brasil tem me dado um certo trabalho ultimamente, com viadutos desabando, enchentes incessantes no Sul e outras coisas que eu trato e que não passam na TV. Somado a tudo isso, e o que acarretou na minha ausência ontem, foi que o país acordou órfão de seu maior craque. E lá fui eu dar conta dele e de toda uma nação que acordou com um pouco do sofrimento dele também. Eis o porquê da minha falta ontem.

Música do Dia: Bola de Meia, Bola de Gude (14 Bis) (Milton Nascimento / Fernando Brant).

Bicho do Dia: Baleia(1194).

sexta-feira, 4 de julho de 2014

185º Dia: Só Imagem


                  Naquela época os filmes ainda não despertavam no espectador o sentido do tato. As atrizes não te beijavam na hora do beijo, tu não levava tabefes na cara do vilão mal encarado, não sentia o frio na barriga quando a criança descia no tobogã, não sentia o gosto da comida do chef, não sentia o vento que vinha da tela balançar os teus cabelos. É, podem acreditar, ver um filme devia ser bem sem graça - embora meus tataravós jurem de pés juntos que não -, pois só tinha o som e a imagem. Ah, tinha até um negócio tosco chamado 3D que não enganava a criança mais ingênua. Enfim, era assistir o filme e rezar para que o teu cérebro sentisse as sensações. Não era como hoje, onde uma sessão de cinema é quase igual à vida real, onde se é o personagem do filme. A única diferença é que tu aperta um botão para gozar dos prazeres cinematográficos, e na vida real não precisa disso. Talvez um dia, tu já acorde dentro de um filme, sem nem precisar apertar botão nenhum. Imagine que houve um tempo em que o filme não tinha nem som, era só imagem. Devia ser um saco.

Música do Dia: Fogo Sobre a Terra (MPB 4 & Quarteto em Cy). (De: Toquinho / Vinicius de Moraes)

Bicho do Dia: Elefante (1747).

quinta-feira, 3 de julho de 2014

184º Dia: Enquanto Isso



                 Enquanto isso, na sala da Justiça, os justiceiros faziam justiça com as próprias mãos. Enquanto isso, eu ficava aqui quebrando a cabeça pra escrever um mini conto que desse conta de tamanho disparate e que coubesse numa descrição breve, sem saber que ele já estava pronto, embora eu não aceitasse isso como solução para um texto cujo o tema  não é solucionável, pois enquanto isso, acontecem milhões de coisas absurdas que serviriam de tema para milhões de mini contos que poderiam ser lidos por milhões de pessoas e poderiam gerar milhões de dinheiros e... mas basta de querer tudo ao mesmo tempo, pois cada um tem o seu  enquanto por mais que o enquanto de cada um dependa do enquanto dos outros.  

Música do Dia: Só Imagem (Os Eles).
Bicho do Dia: Touro (5783).

quarta-feira, 2 de julho de 2014

183º Dia: Passarim

                   Sempre que o Passarim chega perto é sinal de que as coisas melhoraram ou então um presságio de que irão melhorar. Fico maravilhado ao ver o Passarim, tanto quanto maravilha a pessoa para quem ele aparece. Pena que geralmente quando ele aparece eu já esteja de saída. Além disso, o Passarim é augúrio de inspiração. Inspiração que assim como o Passarim não me deram o ar da graça hoje.

Música do Dia: Enquanto Isso (Marisa Monte) (M. Monte / Nando Reis).

Bicho do Dia: Camelo (2131).

terça-feira, 1 de julho de 2014

182º Dia: Vou Morar no Ar


                  Da janela do avião dava pra ver direitinho: eram casas e mais casas feitas de nuvens. Um gato saiu de uma elas. Era também um gato de nuvens brincando com um novelo de nuvens numa rua feita de nuvens. Tinha mais um tanto de bichos não muito comuns de aparecerem em ruas, mas como a rua não era lá muito comum também, rinocerontes, elefantes, cangurus, girafas, baleias e tigres de bengala eram bem vindos. Quando começou a turbulência, não se sabia se era o trem trepidando nos trilhos de nuvens ou se realmente o avião estava tendo problemas. Preferiu ficar olhando pela janela enquanto ouvia gritos que poderiam muito bem estar vindo do estádio de nuvens ou dentro da aeronave. Numa caída vertiginosa o seu olhar acompanhava o tobogã de nuvens. Máscaras de oxigênio de nuvens caíram na sua frente e quando viu que os olhos azul-nuvem da aeromoça choviam teve plena certeza de que iria morar no ar.

Música do Dia: Passarim (Tom Jobim).

Bicho do Dia: Passarim (Tem bicho música mais lindo que esse?).