Em
tempos de fiascos com números que estão mais para cabulosísticos do que pra cabalísticos,
de misturas de raças e de cores também por conta do futebol e de outros
acontecimentos que tenho narrado aqui, me dou o direito de me abster de mais
comentários e abrir o microfone para o meu amigo MEDO, expert em assuntos de
ordem variada:
“Findado
o festival de virundangas do vexame
de que todos falavam – das redes sociais de Sampa às redes antissociais dos
pescadores de Itacaré – passei por sete botecos do tipo “copo sujo” e vi um
motivo pra me retrair: cansaço. Estava vindo de uma série de compromissos que
me tomaram o mês e já não aguentava mais trabalhar. Eu não sou como as minhas
amigas divas que mesmo tendo muito trabalho podem esvair-se nas névoas mágicas
da indiferença, deleitar-se em lagos mansos de lamúrias, tripudiando da
humanidade sem dó, deitadas em travesseiros de pena de ganso: eu sou braçal. Eu
sou peão de obra. Eu sou povão. Passei semanas causando frio na barriga dos que
precisavam ver o campeonato acabar pra que a vida voltasse ao normal, pra que
conseguissem um novo emprego ou dessem continuidade aos seus projetos que foram
pausados em virtude da necessidade de comemorar a vitória que não veio. Gastei
minhas energias pra que alguns não roessem os dedos na hora de um pênalti, pra
que outros não se enfiassem embaixo do viaduto como fez a motorista que puxou o
freio do ônibus em Minas. O trampo foi frenético e eu precisava me desligar. Entrei
no cinema, o filme não era do Godard, mas era quase. Uma pequena sentou do meu
lado e de seu lado o cara sério de camisa amarela com cara séria. Amasso vai,
atracamento vem, escuto um “Me lambe!” com sotaque alemão e, em resposta um
“Não dá, tenho medo!”. Do que seria o medo? Do lanterninha? Dos contra exploração
sexual das brasileiras pelos gringos ou dos a favor da miscigenação? Vieram-me
mais seis possibilidades. Fui embora pra felicidade geral. Concluí que o único
jeito de repousar a esqueleta era ir pra casa e rezar pra moça lamber, mas não morder.”
Descanso
merecido, meu caro amigo MEDO, e creio que entre lambidos e mordidos, estão
todos salvos, visto que não precisaram dos meus serviços.
Música
do Dia: Mariposa Tecnicolor (Fito Paez).
Bicho
do Dia: Cabra (1124).
*Virundangas é um termo da literatura de
Guimarâes Rosa e significa "badulakes" usados na indumentária de
personagens com transtornos mentais.
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