Novas Histórias

Novas Histórias
Foto de Ju Vinagre

sábado, 31 de maio de 2014

151º Dia: Desvãos


                   Ficava no desvão da escada entre as quinquilharias o lugar exato em que se podia enxergar o infinito, desde que não houvesse viseira de cavalo no desvão do olhar.

Música do Dia: Destruindo a Camada De Ozônio (Mundo Livre S/A).


Bicho Dia: Tigre (8888) (Todos eles deitados para homenagear o J. L. Borges).

sexta-feira, 30 de maio de 2014

150º Dia: Vazio


                  Muitos reclamam e sofrem com o famoso vazio existencial. Tudo bem que não é lá um sentimento muito agradável. Mas meu amigo, o MEDO, pode falar melhor sobre o assunto.
“Essa manhã tive dor de cabeça já no segundo gole de cerveja - e antes que alguém venha com sermão chauvinista pendendo pro lado da sociedade dos sãos e livres de vícios - vou logo avisando que sou um alcóolista em potencial. É que eu hoje tive um pesadelo e acordei atento, a tempo... não, péra! Isso dizia a música que o Ney cantava no rádio enquanto fui abortado de um sonho lindo que me gestava em pleno frio de oito graus Celsius. O cara dizia que tinha acordado com Medo e que havia procurado no escuro sei lá quem. Alto lá: acordou com Medo coisa nenhuma, que eu tava bem quieto na minha chupando meu chicabom da solidão – como perspicazmente profere Xico Sá, quando em vez, em textos de fazer o cidadão chamar a mãe – no afago do travesseiro de penas de concriz furta-cor. No meu sonho eu sequer existia. Existia só o vazio. Nada de Medo, nada das minhas coleguinhas pin-ups Dor e Culpa que vivem a desassossegar os corações e as faringes dos tadinhos que são vocês. Completo e total vazio existênci, subistanci e emergencial, sacam? Também não existia Amor, Paciência, nem Desejo, nem carro de telemensagens, nem iogurte Grego com calda de frutas vermelhas: nadinha. E eu era feliz e vocês também. Pensem comigo, vocês não precisavam sequer ter coragem de existir, pra ter que se dar ao trabalho de me acessar, inclusive pra desexistir - essa é pra tu que ameaçou se matar semana passada e tá aí anda. Pensaram em que maravilha de sonho me meti? Eu não ia precisar nem tirar meu pijaminho de manhã pra pegar o jornal na esquina. Não ia ter esquina pro jornaleiro ter medo de ser roubado. Mas é isso. Acordei e vos digo: sentir vazio é melhor que me encontrar, mas cêis são teimosos...”
O MEDO sabe das coisas. Sem mais.

Música do Dia: Desvãos (Mateus Sartori). (De: Zé Modesto)



Bicho do Dia: Águia (1106).

quinta-feira, 29 de maio de 2014

149º Dia: Estadia


                   O lado bom da minha relação que com vocês, humanos, é que é momentânea. Não fico para sempre nos seus corpos e mentes, são apenas os locais onde faço minha estadia. Assim não enjoam de mim e nem eu de vocês. De estadia em estadia eu vou seguindo. E depois que os deixo vocês seguem também. De minha parte, eu me beneficio dessa relação. Espero que vocês também. Na biologia chamam isso de mutualismo. E que assim seja. Portanto, minha intenção não é ser parasita, como muitos me acusam por aí, apenas gosto de ser bem recebida. Dói me receber? Claro. Pois então tirem proveito disso. Ou apenas sofram. E como escreveram no para-choque do caminhão: “ o período de estadia da DOR no mundo está na cabeça do homem”. ;)

Música do Dia:  Vazio (Luiz Gayotto).



Bicho do Dia: Avestruz (1234).

quarta-feira, 28 de maio de 2014

148º Dia: Beijo Partido


                  Por fim descobriu-se que a notícia era verdadeira. O beijo guardado no alto da Torre era o último dos beijos. Depois daquele último beijo o amor seria profissionalizado para sempre. “Transe, copule, trepe, meta, fôda, coma, faça o que  for, mas não beije na boca!”. Claro, como beijar se o beijo acabar? Só que o que viesse depois não importava, o importante era proteger o beijo do alto da Torre. O último. Diásporas do mundo todo estavam se dirigindo para os arredores da Torre. Pensava-se em repartir o beijo. Missão quase impossível. Para contemplar a todos teriam que dividir o beijo em partículas menores que o átomo. Gentes e mais gentes chegavam e começaram a exigir que pelo menos se exibisse o beijo lá do alto da Torre. O ancião que vigiava há séculos a porta de entrada para o ambiente onde fica o beijo foi incumbido de tal tarefa. Abriu a janela para a sacada do alto da Torre e mostrou o beijo para o mundo. E o mundo olhou maravilhado para aquele que era o último beijo. Cada um lembrou do seu beijo inesquecível: o de boa noite do pai, o primeiro, o carinhoso do irmão, o sofrido, o roubado, enfim, cada um ali ao redor da Torre tinha um beijo em sua mente. O mundo naquele pequeno instante era um enorme beijo e tinha beijo pra todo mundo. Num momento de descuido o ancião deixou o beijo cair lá do alto da Torre. Houve um silêncio de morte nas bocas dos rostos cujos olhos não acreditavam no que viam. E viram o último beijo se espatifar no chão. Na mente da cada um a lembrança virou esquecimento e o silêncio virou histeria. Uma multidão de esfomeados carentes se engalfinhava por migalhas de beijo.

Música do Dia: Estadia (Daniel Conti). (De: D. Conti / Bruna Moraes / Peter Mesquita / Marília Duarte). (Estadia é também o nome do CD de estreia do compositor Daniel Conti que tem lançamento previsto pro segundo semestre de 2014).


Bicho do Dia: Macaco (7566).

terça-feira, 27 de maio de 2014

147º Dia: Caninana


                 Faz de conta que assim como a maioria de vocês, humanos, eu não saiba o significado ou o que seja caninana. A brincadeira do dia é: marque com X a resposta certa.
Caninana é:
11.    (   ) Uma aguardente forte que você toma e “nana”.
22.    (   ) “O cachorro da Ana” em latim.
33.    (   ) Uma filial do Festival de Cinema de Cannes no interior do Pernambuco.
44.    (   ) O nome da taturana do poeta Manuel de Barros.
55.    (   ) A resposta certa.

Este ano estou pleiteando uma vaga em algum Órgão organizador de provas de Vestibular.

Música do Dia: Beijo Partido (Toninho Horta).

Bicho do Dia: Burro (4512).

segunda-feira, 26 de maio de 2014

146º Dia: Mesmo que Mude


                  Assim que souberam da morte do rei começaram as conspirações. Na verdade as conspirações começaram desde sempre e nunca acabaram. Foram elas, inclusive, que culminaram com a morte do tal rei. Digamos que com o falecimento real, o processo conspirativo se acelerou.  Entretanto, - e curioso - desta vez seria conveniente que ninguém assumisse a coroa. O trono ficou vago por muito tempo. Depois foi extinto. Depois vieram outras formas de poder. Depois as conspirações continuaram. Depois as pessoas continuaram tendo atitudes que se esperam das pessoas, embora também se espere que as pessoas evoluam com passar dos tempos. Só que mesmo quando mudam os tempos que mudam as vontades, praticamente nada muda e é por isso que dizem que a história se repete e por se repetir pode ser que a história não seja mais história, mesmo que mude.
Tudo bem, pode ser que essa segunda-feira nublada tenha me deixado um pouco descrente demais, mas... deixa pra lá.

Música do Dia: Caninana (Mestre Ambrósio) (De: Siba).



Bicho do Dia: Cobra, claro! (Caninana – 1935).

domingo, 25 de maio de 2014

145º Dia: Certas Coisas


                  Depois de cumprir minhas hercúleas tarefas num mundo cuja realidade não cabe a vocês, humanos, conhecer, chego a tempo de não virar abóbora e cumprir com meus deveres de blogueira. É fato que sinto saudades de todos vocês no mínimo tempo em me retiro do convívio. Sinto saudades até do lado ruim da humanidade que tantas vezes me decepciona e é matéria para meus ensaios escritos de ironia. Mas devo admitir que invejo a capacidade de vocês para quando decidem acertar em cheio as emoções que fazem a vida valer a pena. Certas coisas que não sinto, mas que vejo nos olhos de cada criatura. Certas coisas que não sei dizer. Certas coisas que só a poesia desescrevendo, escreve. E descreve.

Música do Dia: Mesmo que Mude (Bidê ou Balde) (De: Carlinhos Carneiro e Rodrigo Pilla).
Bicho do Dia: Urso (6691)

Filme da Semana: Só Dez Por Cento é Mentira (Documentário sobre a vida e obra do poeta Manoel de Barros). Direção: Pedro Cezar (2008).

sexta-feira, 23 de maio de 2014

144º Dia: Prezadíssimos Ouvintes


                  Como hoje estou atarefadíssima em assuntos de uma realidade que não cabe a vocês, humanos, deixo-vos curiosíssimos com o meu silêncio, prezadíssimos leitores.

Música do Dia: Certas Coisas (Lulu Santos) (De: Lulu / Nelson Motta).

Bicho Dia: Camelo (2829).

143º Dia: 66


                  Quando se reuniram para definirem os novos rumos da música, os 66 compositores já estavam há exatos 66 dias de jejum,  66 dias sem sexo e há 66 dias mudos. A música nunca mais seria a mesma. O novo som seria novo de fato.  A pós-canção surgiria soberana. Sentaram ao redor da mesa de 66 cadeiras e entoaram uníssonos os 66 cânticos do Antes. O Depois estava pra emergir daquelas 66 cabeças geniais, daqueles 66 seres de sensibilidade exacerbada. Fecharam-se as 66 portas que davam entrada ao salão onde estavam os criadores. 66 dias após o início da reunião veio a notícia do fracasso. O porta-voz do grupo disse na coletiva de imprensa que por motivos que não poderiam ser revelados uma nova tentativa já estava marcada para 66 anos mais tarde.  Ao longe um rádio emitia em suas ondas uma canção fofa.

Música do Dia: Prezadíssimos Ouvintes (Itamar Assumpção) (De: I. Assumpção / Domingos Pellegrini).

Bicho do Dia: Carneiro (2728).

quinta-feira, 22 de maio de 2014

142º Dia: Cabrochinha


                  Na minha incessante vontade de definir significados e de me inteirar nos acontecimentos terrenos, lá fui eu atrás do significado de botar diminutivos nas palavras. Em alguns casos serve para demonstrar carinho sobre a coisa ou pessoa com quem ou de quem se fala. Certamente a intenção do poeta da canção do dia de ontem. Em outros casos serve para dar um sentido pejorativo a coisa ou a pessoa. Tipo: “Ah, essa mulherzinha acha que é a tal” ou “Esse sujeitinho atrevido“. Nesses casos os “inhos” e “inhas” tem um pejorativismo irônico ou debochado... Gente, sinceramente, não estou conseguindo achar um caminho interessante pra dar continuidade a essa texto.  Daí me pergunto como adjetivar quantitativamente uma palavra como Inspiração. Esta musa dos escritores e poetas já demonstra um sufixo aumentativo em seu nome, o “ão”, embora, neste caso, não o seja. Da mesma forma não o é a Inspiração que hoje me veio. Portanto, chamá-la-ei carinhosamente de Inspiraçãozinha. Tá bom, tem um certo cunho irônico também.

Música do Dia: 66 (O Terno).
Bicho do Dia: Macaco, Leão e Avestruz (66, 63, 04, o Famoso Terno de Grupo).

quarta-feira, 21 de maio de 2014

141º Dia: Allez, Allez, Allez


                Como vocês sabem desde que cheguei aqui adotei como língua mãe o português brasileiro. Preferência minha e só. Só que hoje acordei francesa. Croissants, flamboyants, mon amour, padedês e tudo mais. Um balagandã só! E já que a ideia é levantar o astral, jogar o clima lá no alto como diz o filósofo franco-brasileiro Naldô, nada melhor que o incentivo do título para que o dia continue fluindo solto como o rio Sena. Subo no alto da Torre Eifel e grito pro mundo todo “Allez, Allez, Allez!!!”. Em bom português: vai, vai, vai!!! Como disse o poeta mineiro-francês: Vai ser gauche na vida!
Bonjour!

Música do Dia: Cabrochinha (Mônica Salmaso). (De: Maurício Carrilho / P. C. Pinheiro).
Bicho do Dia: Galo (9152).

terça-feira, 20 de maio de 2014

140º Dia: Erê Odara


                Erê é criança em Yorubá. Cofere? Odara é paz e tranquilidade, termo de origem da cultura Hindu. Cofere também? Bom, se não é isso, acho que estou no caminho. Com uma pesquisa mais aprofundada eu falaria de forma bem mais precisa sobre tais termos. Mas com poucos cliques no Google já obtive alguma informação. Portanto, basta um pouco de mínima vontade para se interar dos acontecimentos e das coisas. Fica a pergunta: bolsa família é um programa feito para incentivar a reprodução em massa?

Música do Dia: Allez, Allez, Allez (Camille).


Bicho do Dia: Lesma (Aquela em quem o meu amigo joga sal em cima).


segunda-feira, 19 de maio de 2014

139º Dia: Juízo Final


                   No temido dia do acerto de contas, todos, ao mesmo tempo, falaram que tinham esquecido a carteira e Deus mandou botar na conta de Jesus que - indiferente ao juiz sem juízo do carteado sincrético -, bateu cabeça, cuspiu cachaça e deu umbigada, enquanto Mussum dava um breque no cavaco e mandava fazer uma pindureta. Mais uma vez adiaram o tal acerto de contas e a segunda feira nasceu feliz.

Música do Dia: Erê Odara (Zeca Barreto) (De:Z. Barreto / André Fernades).

Bicho do Dia: Cavalo (9443).

domingo, 18 de maio de 2014

138º Retalhos de Cetim


                  Penso que a memória seja uma concha de retalhos. De retalhos de cetim. Tendo em vista a preferência por uma memória seletiva seria ótimo poder lembrar só das partes cetim da vida. As partes mais brilhantes e sedosas. Só que não é bem assim. Porém, por ser seletiva, a memória pode muito bem transformar em cetim as partes feitas de tecidos baratos, o que eu chamaria de reciclagem da memória ruim. Não sei em que tipo de trapo se encaixariam os traumas, talvez algum psicólogo me responda. O que importa de verdade é que as recordações que são retalhos do mal em si, melhor deixar pra trás. Embora eu acredite na máxima de quem bate esquece e quem apanha não, rogo a todos um presente que no futuro seja de boas recordações, porque hoje estou domingante, intertextual, citativa, meta-metafórica e minha memória rã saltita coaxante pelos campos pós chuva onde a lembrança são retalhos lustro coloridos de cetim ao sol.

Música do Dia: Juízo Final (Nelson Cavaquinho) (De: N. Cavaquinho / Elcio Soares).


Bicho do Dia: Coelho (4940).

Filma da Semana: A Festa de Babette (Direção:Gabriel Axel, como roteiro baseado no conto de Karen Blixen). 

sábado, 17 de maio de 2014

137º Dia: Fofoca

                  Os acontecimentos feicebuqueanos tem me irritado um pouco. Eles tem me tirado do meu foco de ser literária para me parecer ser panfletária. Coisa que não sou. Só que tem muita gente rosnando, falando groselha e fazendo fofoquinha infundada no meu ouvido. Antes as fofocas ficam só entre as tiazinhas de janela, agora invadem as redes sociais. Tudo bem que ouvir-ler um monte de baboseira é o preço da democracia e da liberdade de expressão, só que seu ódio e sua revolta não me assustam. Defendam seus posicionamentos, porque querer convencer no grito não rola. Até porque eu mando muito mais nessa porra do que qualquer um de vocês, humanos. Enfim, vou me abster de falar porque o bom de ter amigos é que eles falam o que a gente pensa com muito mais clareza. Então fiquem com minha amiga CULPA:
“Uma conversa amiga, tapada de maus adjetivos sobre a vida alheia é fator imprescindível de controle social a qualquer agrupamento humano. Meter a mão na cumbuca é fácil, tirar é que é complicado. Vamos nós, sem os cachorros, vos embrenhar noutro desses matos. E mais complicado que se entalar no recipiente, é conviver com os comentários das bocas desprovidas de piedade para com o próximo. Desde que vos conheço por gente que o fuxiqueiro exerce a função de por o mundo num arremedo mínimo de equilíbrio. Imaginem essas vidinhas sem alguém para pôr o olho, para cuidar dos teus maus hábitos, para te fazer corar frente aquele teu desejo sórdido, sem me ressuscitar no teu coração aflito. Imagine a quantidade que coisas que tu já pensou em fazer e não fez por medo do que iriam dizer de ti. Imagine o que não fez e deixe que eu me acorde nas tuas entranhas. Te imagine fazendo, eu rosno igual.
Num sábado como esse que pede uma feijoada, falar da vida alheia só mesmo a maneira do poeta do samba de breque: farofa fofa faz fofoca no feijão! Vamos nessa, CULPA?

Música do Dia: Retalhos de Cetim (Benito de Paula).

Bicho do Dia: Gato (6054).

sexta-feira, 16 de maio de 2014

136º Dia: Divina Comédia Humana


                  Peço permissão ao Dante para reescrever aqui a minha Divina Comédia. Logo que vim desfrutar do mundo real e do mundo virtual no inicio do ano, fiquei fascinada. Entretanto, estes dois mundo já estão me enchendo o saco que não tenho. Quando ando pelo mundo real vejo pessoas botando a culpa de tudo no partido da situação, que outrora era oposição. Se o cachorro morreu, se a mulher foi embora, se resvalou numa casca de banana, se o cartão do bilhete do metrô quebra, se chove quando a pessoa está sem guarda-chuva, enfim tudo de ruim que acontece na vida da criatura é culpa desse tal partido. Até o ponto final é culpa dele. Nas redes sociais então o Inferno é ainda maior. Uma emissora de revoltados se rebela a todo instante com milhões de postagens de verdades fanáticas. Acredito que esse partido deva ser uma espécie de Deus, um Deus do mal, visto que todas as tramas que ele cria são para ferrar os pobres mortais. Vários fiéis saíram de suas igrejas e estão rezando ajoelhados em comitês do partido pelo mundo afora. Mas não adianta, se o Deus anterior demorava pra atender os clamores, este novo Deus, além de não dar ouvidos, só faz piorar a vida de todos. E ainda trouxeram a Copa pra enganar e ludibriar os fracos de fé. Impossível viver num mundo assim. Muitos profetizam que estar sob o julgo desse partido é apenas o Purgatório até que se dê a volta das coloridas aves de bico grande que nunca deveriam ter deixado de serem as senhoras num mundo que antes era o Paraíso.
Em outras palavras eu resumiria este texto assim: AH, VAI RECLAMAR COM O BISPO!

Música do Dia: Fofoca (Fagner) (De: Hermeto Pascoal, que também fez o arranjo, a direção musical, regeu, tocou piano, piano elétrico, percussão e porquinho).



Bicho do Dia: Jacaré (3060).

quinta-feira, 15 de maio de 2014

135º Dia: A Felicidade


                  Hoje eu decidi que escreveria um texto que nem coice de porco. Curto. Difícil tarefa a que me propus, definir a felicidade numa só frase. Pensei o dia todo. Um enunciado de efeito? Uma definição filosófica? Um verso certeiro? Uma crônica enxuta? Um mini conto bombástico? Já me dava por vencido quando a frase apareceu numa imagem cotidiana na frente dos meus olhos. Uma criança passou com aquele saltitar sorridente peculiar e me deu a dica. Felicidade é ignorar a existência do futuro quando se está feliz.

Música do Dia: Divina Comédia Humana (Belchior).



Bicho: Burro (3210).

quarta-feira, 14 de maio de 2014

134º Dia: Pra que Discutir com Madame?


                  Assim como vocês, humanos, eu também questiono o sentido da minha existência. Suponhamos que a existência seja uma Madame cheia de vontades. O que, cá entre nós, acho que muita das vezes é. Suponhamos também que existência tenha um sentido.  Vamos lá. A Madame, num momento de dúvida, sopra no seu ouvido o caminho a seguir. Aí é que tudo vira filme. Um dos caminhos pode te levar a encontrar o amor da sua vida ou, sei lá, conhecer alguém que lhe conseguirá um emprego. O outro pode te levar pra um assalto ou até para morte. Não tem como se adivinhar os desígnios dessa Madame. Fato é que sem saber todos acabam fazendo as vontades dela. Tentar enganá-la, fingir que vai por um caminho, mas depois ir pelo outro, não adianta, pois já é este um terceiro caminho. Ficar a mercê dessa Madame é um beco sem saída com muitas saídas. Mas se a vontade é dela e não nossa, qual é o sentido da porra da existência? Se ela é uma combinação de acasos e destinos, não nos resta nada a fazer. Embora façamos e tenhamos que fazer, pois como acreditar que somos marionetes? Entendam que quando falo nós, falo de vocês, humanos. Em meio a tantas dúvidas existências, por hora já tomei minha decisão: sentar num bar, pedir uma bebida, pitar um palheiro, escrever meu blog e desfrutar meu lado flaneur pra ver o desfilar da existência das moças e seus matizes de belezas. É isso! Ver as moças, que por hora nem sabem da existência do meu olhar, existirem no passear da cidade. E enquanto a existência grita, berra e exige, façamos ouvidos moucos. Afinal de contas, pra que discutir com Madame?

Música do Dia: A Felicidade (Tom Jobim & Vinicius de Moraes).



Bicho do Dia: Avestruz (2301).

segunda-feira, 12 de maio de 2014

133º Dia: Piston de Gafieira


                 A lição já foi dada pelo músico malandro que tirava a surdina do piston e tocava alto pra polícia não manjar o quebra pau no salão. Os tempos não são de gafieira, mas bom senso continua sendo bom senso. Só que parece que tanto gafieira quanto bom senso continuam sendo artigos raros. E como tem gente falando pelos cotovelos. E falando alto quando o momento deveria ser de civilizada discussão e baixando a crista, falando baixo, quando deveria falar alto e impor respeito. Depoimentos rasos sobre política feitos por artistas, pareceres medíocres de políticos sobre arte, enfim, uma dança das cadeiras macabra de um falatório pueril. Meus caros, descontentamento não significa falas irresponsáveis. Assim como contentamento não significa mil maravilhas.  Há de se ter cuidado com que se pronuncia para não se passar por leviano. O calor do momento exalta os ânimos? Sim, mas roupa suja se lava em casa.

Música do Dia: Pra que Discutir com Madame? (João Gilberto) (De: Haroldo Barbosa / Janet de Almeida) (Uma homenagem ao cantor Ney Matogrosso).
Bicho do Dia: Coelho (7337).

132º Dia: Mulher Valente é Minha Mãe


                  Como não tenho mãe e já expus meus reconhecimentos a todas as mães ontem, vou me ater na palavra valente. A valentia, ao contrário das mães, sempre me deu muito trabalho. O valente de que falo aqui, não é aquele que enfrenta o dia a dia, o trabalho e a dureza da vida, e sim o valente inconsequente, cujos atos são movidos pelo exibicionismo. Pra ficar mais claro o chamaremos de o valente pavão. Ele tem que chamar a atenção de outrem, seja quem for. O problema é que com isso ele me tira do meu sossego. Provoca briga, lá vou eu. Empina moto, faz pegas, lá vou eu. Bebe até fazer merda e põe a culpa na bebida, claro, e lá vou eu. Nem é preciso elencar outros exemplos da “bravura” do valente pavão. Já deu pra notar que acabo sendo a babá desse tipo de gente. Bom, eu tô aqui pra cumprir com meus deveres de DOR. Eles que me aguardem. Mas o que mais me irrita é que quando não tem ninguém olhando pra eles, eles se olham no espelho, se admiram e ficam pensando na próxima merda que irão fazer, enquanto imaginam que o espelho são os olhos do mundo e eles o foco de toda atenção. Tá bom, é segunda-feira e confesso que estou sem um pingo de paciência e nem deveria perder tempo com valente fede nem cheira. Só espero que este tipo de valentia não se transforme na covardia que acaba em linchamentos, espancamentos e em amarrar ladrões de galinha em praça pública. Já muita covardia transvestida de valentia.

Música do Dia: Piston de Gafieira (Sílvio Caldas) (De: Billy Blanco)

Bicho do Dia: Vaca (9000). 

domingo, 11 de maio de 2014

131º Dia: Esquadros

                  Quem foi que com suas réguas, compassos e esquadros traçou o molde da primeira Mãe? Independente do que cada um acredite, devo a todas as mães do mundo muito de minhas horas de descanso. São elas em sua bondade e instinto as maiores evitadoras que suas proles me conheçam, muito embora os “faz merdinha da Estrela” sempre acabam dando um jeito de vir ter comigo. De certa forma me sinto mãe de cada um de vocês, humanos, pois quando não dão ouvido às suas respectivas mães, acabam dando ouvidos a mim. Assim caminha a humanidade, saindo debaixo da asa da mãe para alçar novos voos e voltando pra debaixo dela sempre que tem oportunidade, para receber aquele carinho e comer aquela comidinha que só ela faz. Entenda-se como mãe qualquer criatura que se deu ao trabalho de criar e dar amor e condições mínimas de dignidade para alguém. Aos que não tiveram mãe ou tiveram uma que não merecia tal nome, sintam-se homenageados, pois, como eu, são a mãe de si próprios. E se dizem que o tal Deus escreve certo por linhas tortas e se é realmente o criador das mães, ele as escreveu certo por linhas perfeitamente simétricas.

Música do Dia: Mulher Valente é Minha Mãe (João Nogueira). (Uma homenagem a todas as mães do mundo e a todas e todos que, não sendo mãe, cumpriram tal papel. Em especial a Dona Sônia, mãe do Sandro Dornelles, pois posso lhes garantir, pelo filho que tem que essa merece todas as homenagens).

Bicho do Dia: Cavalo (1944).

Filme da Semana: Tudo Sobre Minha Mãe (Direção: Pedro Almodóvar).

sábado, 10 de maio de 2014

130º Dia: O Gol

                  O goleiro arrumou a gola da camisa e olhou nos olhos do batedor do pênalti que retribuiu com um sorriso cínico cujo brilho gold de um de seus dentes refletiu na arquibancada que ofuscou o olho do torcedor que tomava um gole de café que acabou golfando porque estava frio mesmo para o ex-fuzileiro da guerra do Golfo que delirava estar jogando golfe enquanto era sedado para parar de gritar seus gritos cuja frequência incrivelmente irritavam um golfinho que nadava numa piscina de um parque aquático no mesmo instante que o batedor do pênalti sentenciava o fim do duelo com um golpe só e provavelmente tenha sido gol embora não saibamos pois em situações de pênalti  a vibração pode ser da torcida do goleiro.
Queria um mundo feito de gols, mas o dicionário não dá muitas opções.
Música do Dia: Esquadros (Adriana Calcanhoto).

Bicho do Dia: Carneiro (0025).

sexta-feira, 9 de maio de 2014

129º Dia: Deixa Isso Pra Lá

                  Em tempos onde o “deixa isso pra lá” é usado por vocês, humanos, como desculpa para fugirem de coisas com as quais não querem se comprometer, seja por preguiça, comodidade ou outro sentimento não muito louvável, eu, em minha esperança para com a humanidade, vou usar meu “deixa isso pra lá” como uma forma de pedido, assim como o fez o poeta ao pedir para deixaram pra lá as fofocas. Bom, coisas absurdas acontecem a todo instante e instantaneamente aparecem na internet para todos verem. A última bizarrice que li foi sobre uma ideia de reescrever Machado de Assis para que as pessoas possam lê-lo com mais facilidade. Meus caros, o Machado é um dos bambas das letras brasileiras. Camisa 10. Como alguém que já leu pérolas como “Memórias Póstumas de Brás Cubas” ou “Dom Casmurro” posso falar que vale o esforço para entender a linguagem do cara. O papo é top. O cara é gênio. Não tentem reescrever o Machado ou qualquer outro bom escritor que lhes pareça “difícil”.  Então, deixem-no em paz. Se alguém reescrevê-lo, não será mais ele o escritor da obra e sim o Zé das Couve que o “traduziu” para o português preguiçoso. Só quem pode reescrever Machado de Assis é o próprio Machado de Assis. Como ele já está morto, não nos resta mais nada, senão lê-lo. Portanto, pessoas que querem “facilitar” a leitura do nosso querido escritor carioca, por favor, colem o ouvidinho aqui e ouçam o conselho desta velha senhora que sou eu: deixa isso pra lá.

Música do Dia: O Gol (Otávio Segala e Berbel (De: O. Segala / Clóvis Itaquy).

Bicho do Dia: Jacaré (1159).

quinta-feira, 8 de maio de 2014

128º Dia: Cantiga de Amigo

                  Ah, o suspiro das cantigas trovadorescas... Quanta saudade me dá. Eu vivia entre os homens medievais e ouvi suas cantigas de amor, de mal dizer e de amigo. Eu era apenas um sopro sobre os lamentos dos poetas e seus sofrimentos amorosos aveludados nas cantigas de amigo. Cantigas essas onde os homens escreviam com a voz feminina da narração os desgostos, abandonos, enfim, as mazelas do amor que as mulheres confidenciavam melodiosamente à natureza, à filha, à mãe ou a quem lhes dessem ouvidos. Bons tempos... Não que os de hoje não o sejam.  Apenas reminiscências. E um desejo que o eu lírico das moças invada a mente dos rapazes no dia de hoje e nos dias vindouros para que eles falem trovadoramente femininos pelos telejornais, rádios, shows, padarias, feiras, pregões e autofalantes do mundo. É, eu sinto saudades às vezes. Talvez uma saudade que eu tenha de algo que nem fui, nem vivi. Mas certamente o estopim de tudo isso seja a saudade que já sinto de um cara que nos deixou essa manhã. Um cara que me chamou a atenção pela energia que tinha no palco desde sempre e de quem sou fã. Ele cantava uma coisa que faço com vocês todos os dias aqui no blog, pois como ele eu acredito que não faz mal nenhum bater um papo assim gostoso com alguém. Saudades... Desculpa Jairzão, mas hoje não vou deixar isso pra lá.

Música do Dia: Deixa Isso pra Lá (Jair Rodrigues). (De: Assis Valente / Alvinho)

Bicho do Dia: Tigre (1386).

quarta-feira, 7 de maio de 2014

127º Dia: Meu Mundo Caiu

                 Hoje li no face uma frase de um amigo do Sandro Dornelles: “É impressionante a capacidade de reinvenção da decepção”. Concordo.  Conheço muito essa Senhora. Até porque é uma das minhas “empregadoras”. Por onde ela passa é raro eu não passar também.  Às vezes, vocês, humanos, se decepcionam com alguma coisa que não sai como planejaram. Outras vezes, na maioria delas, acredito, decepcionem-se com outra pessoa. De onde concluímos que a humanidade é quem se reinventa em sua capacidade de decepcionar os outros.  A obviedade deste pensamento só não é tão óbvia quando quem o faz sou eu ou meus amigos e amigas. Vamos apelar para o raciocínio lógico: alguém decepciona outrem. Esse “outrem” desfrutará então da minha companhia e, provavelmente, da companhia do meu amigo MEDO também, no caso de pensar em confiar em “alguém” depois. Entretanto, se tiver MEDO de dar uma segunda chance para “alguém”, “outrem” acabará fazendo sala para a minha amiga CULPA.  Depois do chazinho com a CULPA, “outrem” perderá o MEDO e dará uma segunda chance para “alguém”. “Alguém” vai lá e... Quem sabe a resposta? Isso! “Alguém vai lá e decepciona “outrem” novamente, num sucessivo contínuo. Conclusão: estão reinventadas, num sucessivo contínuo, eu, a DOR, e minhas amigos(as) DECEPÇÃO,  MEDO e CULPA, onde “outrem” são as pessoas boas, que vocês, humanos, apelidam de trouxa e “alguém” são as pessoas que se aproveitam da bondade dos outros. “Alguém” também atende pela alcunha de esperto. Dito isso, podemos ver que é muito fácil se reinventar em mundos caídos.

Música do Dia: Cantiga de Amigo (Elomar).
Bicho do Dia: Águia. Melhor, Gavião. (Aquele das barrancas do rio do Elomar). (4504). 

terça-feira, 6 de maio de 2014

126º Dia: Só Sorriso

                  Era um mundo onde todo mundo ria. Riam de cócegas, riam de pavor, riam de palhaços, riam da DOR. Riam de tudo, os pobres. Certa vez o rei deste risonho mundo mandou organizar um concurso onde quem chorasse primeiro ganharia a mão da princesa e, por consequência, gozaria das benesses da vida real. Obviamente todos riram durante dias quando viram os cartazes espalhados pelo reino com tais dizeres. O Rei riu das risadas do povo que riu das risadas do rei que riu da risada da princesa que riu do bobo da corte que riu da guarda que riu do mágico... Enfim, as pessoas não faziam mais nada além de rir o dia inteiro. Rindo, o rei mandou seu mensageiro chamar o sábio da corte para solucionar o caso e também para que tirasse uma lágrima de dentro de alguém para que o chorador tirasse sua princesa filha da castidade. O sábio entrou no palácio rindo. Todos rindo esperavam a solução que ele trazia. Do nada, de repente, o sábio, num riso frouxo, puxou um punhal e cravou no coração virgem da virgem princesa. Silêncio. E após o silêncio todos morreram de rir. Morais da história: enquanto se rir de tudo, tudo é motivo de riso. Ou: quem ri por último fica rindo sozinho. Ou: kkkkkkkkkkkkkkkkk. Ou: hahahahahaha. Ou: Meu deus, eu não consigo parar de rir! Ou: eu quero morrer! Ou: Era um mundo onde todo mundo ria. Ou: Nenhuma das morais da história anteriores está correta.

Música do Dia: Meu Mundo Caiu (Maysa).

Bicho do Dia: Carneiro (0528).

segunda-feira, 5 de maio de 2014

125º Dia: A Lágrima do Palhaço

Mais um amigo que será correspondente mensal do blog. Um amigo que gosta de acabar com meu trabalho, pois graças a ele, muitos de vocês, humanos, deixam de fazer coisas que poderiam ser dolorosas. Porém, quando este amigo me dá trabalho, é trabalho mesmo, pois quando alguém faz alguma coisa na companhia dele a merda é grande. E quase sempre sobra pra culpa também. O cara não perdoa ninguém, nem o pobre do palhaço. Enfim, uma vez por mês ele estará aqui fazendo companhia a mim e a minha amiga CULPA. Não quero aqui fazer charadinhas tipo aquelas malices de amigo secreto no final de ano da firma. Então que ele se apresente:
"Telefone toca. Deu uma coisa estranha, uma vontade de deixar tocar até cair, mas atendi. Era a Dor querendo contar as novidades. Maniazinha essa – inerente às criaturas munidas de feminilidade – de contar as novidades, como se houvesse de fato alguma coisa inédita nesse mundo. Porque é isso mesmo que eu penso sobre as coisas do mundo: não há nada que eu já não tenha visto. Mas antes de dar minha opinião sobre coisas do mundo, quero falar de mim, só um pouco também porque não gosto que me achem espaçoso, aliás, eu não gosto que fiquem achando coisas a meu respeito, sei lá, me dá vertigem. Eu sou aquele cara que chega meia hora antes do horário no primeiro encontro, pra ver vocês, humanos, chegarem quinze minutos antes e cortarem um dobrado pra não dar meia volta e retornar pra dentro do útero de vossas mães. Também me sinto usado por essas mesmas mães com úteros acolhedores, que convencem suas crias de que matar aula pode resultar em imprevistos, de que imprevistos podem desencadear morte, de que morte pode impulsionar esquecimento por parte dos entes queridos e que vocês não vão querer ser esquecidos por seus entes queridos!
Sou mal falado por pessoas que tem dificuldade de abstrair, sendo por vezes confundido com Covardia. Na verdade, eu ruborizo com essa confusão. Eu e a Covardia já nos topamos muito pela vida, ficamos umas vezes, mas gostamos de coisas diferentes. Falo disso outra hora. Me deprime. Eu trato mesmo é de coisas complexas. e as tretas que eu instigo são repletas de argumentos que por si diferem-se das mungangas. E por falar em mungangas, detesto palhaços. Já digo logo. Porque é uma racinha que é só sorriso no picadeiro, mas me abraça de noite antes de dormir e chora, lamenta não ter chegado junto na malabarista ou na mulher barbada. Me deu vergonha quando lançaram filme que ficou famoso por ter um palhaço horrendo que hipoteticamente me despertava dentro de quem o assistia. Onde já se viu? O palhaço do filme é cara do palhaço do MCDonalds. Palhaço é invenção humana pra forjar a realidade nem tão colorida e risonha, e eu não gosto dessas coisas forjadas.
 Sou do bloco do boicote por causas nobres. Como a Dor e a Culpa, sirvo ao bem e ao mal sem precisar de deuses ou demônios e estou sempre colando nelas, principalmente às sextas-feiras que é quando todo mundo decide esquecer que eu existo e se jogar na balada. Vez ou outra o pessoal interrompe nossos trabalhos de relaxamento: O cidadão me encontra, se livra de mim mandando pra dentro um rabo de galo e faz uma merda: no domingão é a Culpa que o acorda no alto da ressaca; a moçoila me aciona, me leva pra casa, não faz nenhuma merda: no sábado mesmo, às três da matina, já berra a Dor pra acompanha-la num vinhozinho com edredom. Mas chega de falar de mim. Falemos das coisas do mundo, que são um tanto quanto obsoletas daqui de onde tô vendo."
Taí meu amigo, o MEDO.

Música do Dia: Só Sorriso (Maria Gadú e Dani Black) (De: Dani Black) (Uma homenagem à corajosa jovem, Karina Limsi).

Bicho do Dia: Coragem, o Cão covarde (6717).

domingo, 4 de maio de 2014

124º Dia: Cada Macaco no Seu Galho

                  Já comentei nesse blog sobre a história da evolução, quando um macaco matou o próprio pai para poder sair de sua tribo e ir conhecer, interagir e se reproduzir com macacos de outras tribos. Se não me engano Freud também já falou desse negócio de matar o pai, com outra intenção, mas enfim. O que me interessa é falar que na árvore genealógica de cada um de vocês, humanos, cada um é um galho que junta com outro e que gera outro e assim num sucessivamente indo-misturando. A frondosa e exuberante árvore mostra exatamente, folha a folha, de quem descende cada um. E a beleza dessa árvore vem justamente das misturas, do degradê das cores. Eu ajudei a regar cada árvore e, de certa, forma fui um pouco responsável pelo fortalecimento da raiz e rigidez do tronco. Num país como Brasil a beleza das cores do pomar genealógico é ainda maior. E, mesmo assim, tem uns que vem falar que são geneticamente puros. Cada um se engana como quer e até chega a enganar alguns desavisados. Só que comigo não, violão! Mas alguns podem retrucar: “quem disse que tenho que gostar do colorido?” E eu respondo: claro, não questiono preferências, mas como diz o cinéfilo, pra quem não gosta do filme colorido, tem o filme preto e branco. ;)

Música do Dia: A Lágrima do Palhaço (Coisa Nostra). (Uma homenagem ao próprio povo do Coisa Nostra que acabou de sair da casa do Sandro Dornelles e já deixou um silêncio de saudade no ar. Vê se não chora, né Sandro?!)
Bicho do Dia: Leão (8161).

Filme da Semana: Twin Peaks (Direção: David Lynch).

sábado, 3 de maio de 2014

123º Dia: Onde Anda Você

                  Porque nunca ninguém de vocês, humanos, me faz essa pergunta? Continuo a desconfiar que eu seja “persona” non grata. Que feio. Isso é discriminação, viu?! Depois eu mando uma banana pra vocês e ficam tudo chorando pelos cantos com saudade de mim. E por falar em banana, lembrei-me de uma história que aconteceu nos primórdios da civilização. Certa feita havia um macaco - macaco mesmo, não confundam homens com macacos, por favor -, que era albino e se achava superior aos outros que eram pretos. Só que os macacos pretos não achavam isso do albino, somente achavam-no meio excêntrico e esquizofrênico. A vida de todos eles era muito dura, uma vez que para se alimentarem tinha que comer os únicos frutos que existiam que tinham uma casca duríssima que só era quebrada a custa de muita pedrada e porrada. Os macacos pretos resolveram que inventariam uma fruta fácil de descascar. E assim inventaram as bananas e as ofereceram ao macaco com ausência de melanina que disse que inventaria a própria fruta e que não precisava de ajuda pra nada e recusando-as em sua soberba. Moral da história: o macaco albino está até hoje tentando descascar o abacaxi que ele mesmo inventou e parece que ainda vai levar um bom tempo pra conseguir descascá-lo.

Música do Dia: Cada Macaco no Seu Galho (Riachão).

Bicho do Dia: Macaco, claro (8365).

sexta-feira, 2 de maio de 2014

122º Dia: Samba do Trabalhador

                 Quer saber, se vocês, humanos, podem, eu também posso e decreto: está constitucionalissimamente emendado o feriadão da DOR. Fui!

Música do Dia: Onde Anda Você (Vinicius de Moraes) (DE: V. Moraes / Toquinho / Hermano Silva).

Bicho do Dia: Tatu (Aquele que não sai da toca) (0717).

quinta-feira, 1 de maio de 2014

121º Dia: Espírito dos Afogados

                  Nenhum dos espíritos dos afogados pertence a mim. Mas acompanhei a todos em seu desespero antes de entregá-los plácidos para a Morte... Antes de escrever o que vocês estão lendo aqui, escrevi um texto pesado sobre os vários afogamentos que existem. Pois não se afoga só em água. Afoga-se também em sentimentos ruins como ódio ou depressão, por exemplo. Mas deixemos esses pra lá. Fiquemos nos afogamentos bons. Entre os vários afogamentos desse tipo, tem um que vale a lembrança pelo dia de hoje. Um brinde aos afogados no trabalho! A essas elevadas almas producentes! A esses abnegados construtores do amanhã! A esses quem ganham seu pão pelo suor dos seus rostos! A esses que batem cartão e passam pelas infinitas catracas pra cumprir com seu dever! A esses que comemoram o dia de hoje com o estranho sentimento que são os homenageados da comemoração do dia 1º do mês anterior! E, finalmente, um brinde a mim, que estou aqui trabalhando e que, pela qualidade da piada, morreria de fome se tivesse que viver de stand-up.

Música do Dia: Samba Do Trabalhador (Martinho da Vila)           

Bicho do Dia: Avestruz (9001)