Novas Histórias

Novas Histórias
Foto de Ju Vinagre

sábado, 30 de agosto de 2014

242º Dia: Encontro Marcado


              Vocês, humanos, não lembram (ou algo em vocês esconde essa lembrança para que a vida continue tendo graça), mas assim que nascem, a Morte sussurra nos seus ouvidos: “temos um encontro marcado”.  Embora vocês insistam em esquecer e a Morte em lembrar, nesse encontro nenhuma das partes se atrasa. E nos encontros e desencontros que acontecem pelo caminho que os leva até o derradeiro encontro, vou dando meu ar da graça, pois, fala sério, sem minhas cheganças de surpresa é que a vida de vocês não teria a menor graça. Tudo bem, não precisa me agradecer.

Música do Dia: O Homem e a Espingarda (Zé Mulato e Cassiano).

Bicho do Dia: Cachorro (9719).

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

241º Dia: In the Wee Small Hours (Primeiras Horas)



                Meu objetivo neste e blog é escrever textos diários. Meu mote para isso é o título da música que indico no dia anterior. O texto não precisa ter a ver com o conteúdo da letra da música, na verdade, quase nunca tem e esse é o barato. Quando a canção indicada é gringa (gringa é quando a letra não é cantada em português que é língua escolhida por mim pra praticar meus escritos e meus desescritos pra mostrar para o mundo) eu tomo mais liberdades ainda: traduzo como quero e boto uma pitada de Google tradutor pra confundir. Portanto, “in the wee small hours” virou “as primeiras horas” em português. Se não for essa a tradução correta, por favor, não precisam me corrigir, pois não me interessa. Guardem-na com vocês e leiam meu texto, pois ele vai além de meras traduções. Nossa, quanta explicação! Obviamente, não perderia meu tempo com isso, só estou dando corpo ao texto pra publicar alguma coisa – como fazem alguns jornalistas -, caso não venha nenhuma ideia sobre “as primeiras horas”. Como as vezes pego no tranco a ideia veio agora. Então lá vai:
O primeiro relógio do mundo ficou em dúvida nas primeiras horas em que começou a funcionar. Ele se sentia roubado: e as horas que ficaram pra trás depois que ele começou a funcionar? Por estar incomodado com isso o relógio não conseguia marcar as horas com precisão. Havia um descompasso que precisava ser resolvido. Segundos, minutos tinham durações variáveis nas primeiras horas. Para sanar tal problema, levaram o relógio para o Vale das Horas Perdidas para que ele se entendesse com elas. O relógio se sentiu em casa naquele lugar e lá ficou por séculos, dizem que na sua estada por lá ele deu corda pra animar a primeira lira que animou todos os relógios. Muito depois o relógio retomou o seu ofício de marcar o tempo. E as primeiras horas eram finalmente as primeiras horas. Agora elas eram marcadas com exatidão, pois o Relógio havia compreendido que as horas perdidas também fazem parte da construção do tempo.

Música do Dia: Encontro Marcado (Alcione)(De: Altay Veloso / Paulo Cesar Feital). (Uma homenagem ao colaborador do Dia, Vercesi).

Bicho do Dia: Águia (0707).

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

240º Dia: Fiu Fiu


                 Numa longínqua montanha a noroeste do Tibete existe uma espécie de pássaro que emiti um som muito semelhante ao nosso conhecido “fiu fiu” na época de acasalamento. Quem produz tal canto é a fêmea. Os machos também produzem tal som. Entretanto, fora da época de acasalamento. E quando um macho desavisado manda um “fiu fiu” fora de época, as fêmeas que estão por perto o atacam em bando. Esses ataques geralmente são fatais.
Moral da História: às vezes um psiu vale mais que um fiu fiu.


Música do Dia: In The Wee Small Hours Of The Morning (Frank Sinatra).
Bicho do Dia: Peru (8579).

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

239º Dia: Mambo da Dor


                Enquanto eu me esbaldava ao som do Mambo na noite caliente dos trópicos, meu amigo MEDO delineava alguns pontos crucias do momento em que vivemos e mais uns tantos existencialismos afogados em drinques caribenhos:
                “Neste fim de semana saí de balada. Covardia me mandou um correio elegante eletrônico e disse que tinha uns vips.  Há tempos a gente não saia junto pra evitar os flash backs que a vida proporciona. Me rendi aos encantos da moça e decidi relaxar uma noite. Desde a morte de Dudu dos campos e a ascensão de Marininha sustentável tenho tido dias desesperadores, pois parece-me que parte de vocês, humanos, estava certo demais quanto a durabilidade de uma prévia, quanto a veracidade das pesquisas de opinião e afins, ignorando a possibilidade de imprevistos.  Entendo, pois também agi assim e me vi imerso numa contradanza medonha. Cheguei à festa na pilha de ouvir algo energético, ver gente nova, misturar a Covardia com meu balanço e deixar a bichinha tonta com alguns drinks, chego lá e encontro uma corja: Inveja, Prepotência, Culpa, Ignorância, Raiva e a digníssima Dor, toda trabalhada na certeza, já que tudo no mundo tem fim menos ela. Inveja disse que havia combinado com a Maledicência pra que trocassem turno, pois a segunda é a primeira de soja*. Prepotência disse que seus sábados tem sido tranquilos e acha que é porque a Demagogia resolveu sair do armário, Culpa e Ignorância estavam de plantão só na água com gás, olhando pelos que saíram pra noite e pelos que ficaram em casa nas redes sociais. Raiva tava pronta pra entrar no sangue do olho do primeiro bêbado e a Dor tava como sempre, à espreita. No auge da minha quinta dose a Dor parou o samba e pediu pra tocar um mambo! Desacreditei. Achei o cúmulo da breguice. Larguei todas lá e voltei pra casa. Tendo em vista que as hidrelétricas choram sem conseguir encher seus reservatórios, baldes e baldes dão gelo em nosso senso de ridículo, candidatos se estapeiam com Jornalistas megalomaníacos, Levy Fidélix almeja integralizar o bolsa família e tudo que é time ramelento quer fazer parte do G4, foi melhor retornar ao lar e descansar minha esqueleta ouvindo meu Sigur Rós de cada dia. Mambo já é tripudiar da burrice na qual tem se calcado as ações humanas desde que o mundo é mundo. A humanidade precisa de mim mais que nunca e é num ritmo menos caliente que eu quero impor minha presença. Prudência “sou eu, só que de soja, e ainda que pareça humilhante, ela sendo bem recebida eu já me contento.” (Medo).
Por isso que eu digo: se o MEDO falar dê pelo menos uma atençãozinha.

*Quando dizemos que algo é de soja, podemos estar sugerindo que algo é similar, parecido em algum aspecto e pode até substituir outro ser/objeto a depender das circunstâncias.

Música do Dia: Fiu Fiu (Filarmônica De Pasárgada) ( DE: Marcelo Segreto).
https://www.youtube.com/watch?v=Bsrq8qv8Uig
Bicho do Dia: Porco (2969).

terça-feira, 26 de agosto de 2014

238º Dia: Onde Deus Possa me Ouvir



                Os personagens começaram a entrar todos para dentro do mesmo livro. O personagem principal do livro foi se escondendo nas páginas do meio. Sua casa-livro estava sendo tomada. Engarrafamentos infinitos se formaram nas estradas do livro o que obrigou a todos os personagens desistirem de chegar até o FIM e a começarem a conviver. Em pouco tempo uma nova sociedade foi formada e em menos tempo ainda formou-se o pandemônio. Foram tempos de fogo dentro do livro onde páginas do nada entravam em combustão.  Alguns personagens começaram a virar bestas e a se alimentarem das orelhas do livro. O personagem principal estava acuado na página amarelinha, nº 62. Nesta página havia uma montanha de oito faces e se alguém alcançasse seu topo teria como prêmio fazer um pedido a Deus. Por sorte e com ajuda das armas secretas o personagem principal chegou ao topo. Perguntou para um cara com um cigarro na boca que estava lá: é aqui o lugar onde Deus escuta a gente? O homem respondeu: era, agora é só o lugar onde dorme o Ponto Final do livro e é melhor não acordá-lo. O personagem falou: mas o que eu faço agora? Meu livro está tomado e o Ponto Final não pode ser acordado. Me leve aonde Deus possa me ouvir, suplicou. O Homem com o cigarro na boca pegou o personagem principal pela mão e o atirou para dentro de um portal secreto e o personagem, - que já não era mais o principal - caiu dentro de um livro do Cortázar. 

Música do Dia: Mambo da DOR (Rita Ribeiro) (De: Zeca Baleiro).
http://www.youtube.com/watch?v=XQfPL2vZiig 

Bicho do Dia: Cronópios.(Ou Famas, como preferirem).

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

237º Dia: Para Uso Exclusivo da Casa


               Só queria lembrar que não se deve ter preconceito com as palavras, pois todas, eu disse TODAS elas com certeza tem vontade de fazer parte da poesia de um bom poeta e querem também ser de uso exclusivo da casa da Beleza. Pra bom poetaDOR meia palavrinha bonitinha ou meio palavrão feioso basta.

Música do Dia: Onde Deus Possa me Ouvir (Vander Lee).

Bicho do Dia: Touro (5982).

domingo, 24 de agosto de 2014

236º Dia: Canalha


               Convenhamos que a canalhice tem seu charme. Quando vocês, humanos, me chamam de “canalha!”, geralmente numa intenção depreciativa para reclamarem das visitas inesperadas ou esperadas que lhes faço,  saibam que não me ofendem. Orgulhosamente me reconheço como parte integrante do seleto grupo das canalhas. Uma canalha romântica, que fique bem claro. Entretanto, sou uma canalha que não reclama por não me convidarem para fazer novelas com altos pontos de ibope, nem pra entoar canções que lotam estádios de futebol, nem pra sessões de descarrego, nem pra tratar doentes sem ao menos saber o que significa medicina, nem pra advogar em meio às brechas da lei para salvar filhos da puta, muito menos pra estar escrevendo e falando levianamente em jornais de papel e de TV. Então, seu eu não reclamo, deixem essa canalha que vos fala em paz. Além de que, entre esse festival de canalhices que acabei de citar e a minha, sou mais a minha, que além de charmosa, já vem com lições de vida incluídas no pacote.

Música do Dia: Para Uso Exclusivo da Casa (Dhi Ribeiro). (De: Juninho Peralva / Paulinho Rezende). (Uma Homenagem à colaboradora do dia Ritinha Carvalho que me apresentou essa pérola).

Bicho do Dia: Veado (2095).
Filme da Semana: Os Cafajestes (Direção: Rui Guerra).

sábado, 23 de agosto de 2014

235º Dia: Samba que nem a Rita à Dora


                 No prédio de trocentos apartamentos por andar todo mundo ouviu o quebra pau. Também como é que Malandro dá um mole desses e canta pra Rita um samba que fez pra Dora? B. O. na certa. Malandro gostava muito das duas e achou que tinha sido injusto com a Rita. Foi lá e cantou pra Dora um samba que tinha feito pra Rita. Outro B. O. Justiça feita, Malandro seguiu fazendo seus sambas. Quando o tema virou indecisão, doeu. Malandro gostava das duas. As duas falaram no seu ouvido: “ou ela ou eu”. Malandro correu do som da fala delas foi falar no ouvido de Clara. Clara tinha surgido não sei de onde, mas quando ouviu o samba que Malandro tinha feito pra ela – na verdade era pra falta de Rita, de Dora e Glória-, e Glória nem virá nessa história pra reclamar direito algum-,, seus olhos brilharam. Era o homem. Aquele era o homem. Para Rita e para Dora já não era mais. Daqui pra frente não importa mais o que acontecerá na história. Que ela se conte pra cada um de vocês no que a imaginação mandar. Leitor, eu posso ser Machado e cortar a história aqui. Conforme-se. E vamos ao que interessa: o Malandro sempre soube, ainda não sabe, mas sempre vai saber, que o samba é quase Deus: escreve quase certo por linhas tortas. E no “quase” é que está a maravilha da coisa TODA.

Música do Dia: Canalha (Walter Franco)

Bicho do Dia: Avestruz(1503).

234º Dia: Que Grilo Dá (Rock De Repente)


                O legal da música é que a linguagem é universal, esperântica, é como a linguagem do amor, todo mundo se entende. E onde todo mundo se entende a babilônia do avesso dá os sabores. Rock de repente é baião. Baião de repente é salsa. Salsa de repente é Fox trote. Fox de repente é xote. Xote de repente é regue. Regue de repente é blues. Blues de repente é milonga. Milonga de repente é punk. Punk de repente é frevo. Frevo de repente é rumba. Rumba de repente é Maracatu. Maracatu de repente rap. Rap de repente é samba. Samba de repente. E por aí vai. Misturas impossíveis que dão o maior caldo. Casamentos inesperados. O amor que desconstrói e cria. O que importa é que de 2 ou + nasça um terceiro, é que dê em música. E se der em música, o que vier depois é lucro. Só não pode dar grilo. Pois como disse o bardo da Muda, pior que nem aplauso nem vaia é o silêncio de morte. Cri-cri!  

Música do Dia: Samba que nem Rita à Dora (Seu Jorge) (De: Luis Carlos da Vila)
Bicho do Dia: Gato (3754).

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

233º Dia: Show


                 A vida da diva estava um show de horrores. Ninguém, entretanto, via isso no seu show maravilhoso daquele dia. A diva estava divina. Um cavalo branco invadiu o palco do nada. Tinha um príncipe montado nele. No ponto alto de sua música de maior sucesso. Ninguém, entretanto, via isso no seu show maravilhoso daquele dia. A diva estava endiabrada. A diva mandou o príncipe se fudê e tomou outra dose para que descessem com ela todas as pilulazinhas coloridas que estavam em sua boca. Ninguém, entretanto, via isso no seu show maravilhoso daquele dia. A diva estava magnífica. A essa altura já tinha uma TV ligada num programa de merda qualquer no palco e a diva já estava passando mal afundada num enorme sofá. Ninguém, entretanto, via isso no seu show maravilhoso daquele dia. Todos aplaudiram e reaplaudiram a diva de pé. No camarim recebeu as rosas com um sorriso largo que como uma cortina fechada escondia um outro show por detrás dele. No quarto solitário do hotel a diva divina, endiabrada e magnífica tirou a maquiagem e o pano caiu. O show estava só começando.

Música do Dia: Que Grilo Dá (Rock de Repente) (Alceu Valença).

Bicho do Dia: Grilo-Macunaíma engolindo o Homem-Aranha. 

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

232º Dia: Sleep Now in The Fire (Durma nas Chamas Agora).


                  Era o maior prazer do Que não ri, - antes de ser O que não ri, o Carcará Sanguinolento, o Cramulhão, o Canho do Pé Preto, o Pé de Pato, enfim, antes de ser o Diabo – dormir em camas feitas de nuvens de material algodoado. Todas estas nuvens estavam em seu poder até deus precisar delas para ajudar a curar as feridas do mundo. Como eram muitas as feridas acabaram-se todas as camas nuvens do anjo mimado. O anjo resolveu então roubar a cama nuvem de deus. Ele ficou furioso e mandou criar o inferno pra poder mandar o que não ri pra lá. Feito o inferno, deus chamou o anjo mimado e disse “vai pro inferno!”. O anjo suplicou “mas onde eu irei dormir nesse lugar?”. Deus respondeu “durma nas chamas agora!”. E lá se foi o anjo emburrado para toda eternidade.
Eu poderia continuar essa história, mas é melhor ir direto pra moral dela.
Moral da história(?): às vezes os temas propostos nos títulos indicam um caminho que não leva a lugar nenhum e quem dorme nas chamas é o próprio autor.

Música do Dia: Show (Ná Ozzetti) (De: Fábio Tagliaferri / Luiz Tatit).

Bicho do Dia: Camelo (0931).

terça-feira, 19 de agosto de 2014

231º Dia: Caprichos do Destino


                 O Acaso é o capricho mais caprichoso do Destino. O Destino sempre consegue manter tudo sob controle.  O Acaso está adormecido em todas as coisas e de vez em quando acorda. Na verdade o Destino e o Acaso estão mancomunados e o Acaso é acionado para que, contra tudo e todos, os desejos do Destino se realizem. Teve uma vez só que o Acaso agiu por conta própria. Há bilhões de anos atrás, milhões de seres unicelulares viviam tranquilamente na Terra, num habitat perfeito. Estes seres seriam evolutivamente cuidados pelo Destino para bilhões de anos mais tarde virem a ser os habitantes do planeta, seres muito mais dóceis e mais fáceis de domesticar do que os habitantes que hoje conhecemos. Entretanto, o Acaso, do nada, resolveu mudar as condições de temperatura e pressão do habitat dos unicelulares que, até então, era perfeito. Assim acabou com todas as crias do Destino. Somente uma espécie unicelular sobreviveu ao morticínio e esta espécie veio, bilhões de anos depois, a falar “eu te amo” em várias línguas e a dar paulada em várias cabeças com ajuda do seu famoso polegar opositor. O Destino até hoje não perdoa o Acaso pelo trabalho que tem lhe dado e o Acaso hiberna com um bebê.

Música do Dia: Sleep Now in the Fire (Durma nas Chamas Agora) (Rage Against Machine).

Bicho do Dia: O Cão Chupando Manga.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

230º Dia: Jura


                Depois de ficar conhecido por não cumprir nenhuma das tantas promessas que fazia, Juraci começou a ser chamado de Jura. Uma corruptela de seu nome e uma ironia no que diz repeito às suas atitudes de não cumpridora de promessas. Naquele dia, Jura poderia muito bem ter feito a barba ou então tirado a sobrancelha, mas saiu pra rua sem se decidir por nenhuma das duas coisas. Isso porque eu ainda não me decidi se Jura é um homem ou uma mulher nessa história. Enquanto penso sobre isso, Jura já foi atropelada ao sair pra rua e já não importam mais barbas nem sobrancelhas. Acabou que Jura virou anjo, ou anja se preferirem. Portanto, Jura, ex-Juraci não cumpridor de promessas, virou anjo(a). Duas ironias divinas nessa história: uma debochando das dúvidas humanas sobre a existência de seres celestiais (jura?) e outra debochando da escritora que vos escreve e sua tentativa de deixar em suspense o sexo da personagem numa história absurda.

Música do Dia: Caprichos do Destino (Orlando Silva) (De: Claudionor Cruz / Pedro Caetano).

Bicho do Dia: Porco (6869).

domingo, 17 de agosto de 2014

229º Dia: Under the Bridge (Debaixo da Ponte)

                 Quando não se tem onde morar dizem que o sujeito vai pra debaixo da ponte. Em alguns casos, de tão precários, é até um eufemismo.  Fato é que muitos realmente vão e outros tantos moram debaixo da ponte. Caminhos para os pés de uns, tetos para as cabeças de outros sem-tetos. Sei da minha convivência com essas gentes. Também sei dos momentos em que parti e vi de longe um sorriso amarelo e banguelo estampado na cara dessas mesmas gentes. Um sorriso com a mesma intensidade de felicidade como qualquer outro. Até mais intenso, pois achar um sorriso entre papelões-parede, bugigangas-móveis e viadutos-teto é bem raro. Pois é, vocês, humanos, não me surpreendem mais na sua capacidade de fazer merda, mas sempre me pegam de surpresa quando consigo ver humanidades tão finas em situações às vezes tão desumanas. Creio que meu texto tocaria muito mais as pessoas se fosse publicado em época natalina. Lamentam desapontá-los, mas as pontes continuam lá, monumentais e arquitetonicamente armadas, esperando que seus olharem se voltem para elas ou para debaixo delas, independente do papai Noel.

Música do Dia: Jura (Mario Reis)(De: Sinhô).
Bicho do Dia: Jacaré (2257).

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

228º Dia: Nós Vamos Invadir sua Praia

Sábado!!!
               O ex-menino roqueiro gritou essa frase aos quatro ventos, entrou correndo no mar e deu um mergulho esperando rejuvenescer. Emergiu com as mesmas rugas. Nem com todo seu QI conseguiu achar a fórmula pra fazer voltar o tempo. Continuou arranhando os mesmos acordes e ganhava quase o mesmo que ganhava nos tempos idos. Vociferava sua rebeldia nas redes sociais, mas não era mais o personagem de suas antigas canções. E ainda tinha certeza de que se parasse no tempo o tempo pararia para ouvi-lo. Ledo engano, pois o tempo invadiu a praia dele e o afogou em suas certezas.

Música do Dia: Under the Bridge (Debaixo da Ponte). (Red Hot Chili Pepers).

Bicho do Dia: Vaca (1498).

227º Dia: Armadilha


                  As pistas no mapa do tesouro não falavam onde estavam as armadilhas. Os piratas não iam dar esse mole. E como se fazer um filme sobre caça ao tesouro sem armadilhas? O cameraman foi engolido por um monstro até então adormecido e acordado pelo pé de alguém que tropeçou num fio que fez tocar o sino acordador. O cara da captação de som caiu num buraco que dava num rio de lava. Os atores todos caíram numa rede imensa e foram catapultados para uma enseada cheia de tubarões. Os produtores foram decapitados por lâminas invisíveis. Enfim, toda a equipe foi pega pelas mais variadas armadilhas. O diretor teve que dar mil explicações à imprensa. O mapa se perdeu. No passado os piratas tomam rum antes de saquear outro navio real cheios de tesouros que atualmente já não valem mais nada.

Música do Dia: Nós Vamos Invadir sua Praia (Ultraje a Rigor). (De: Roger Moreira).

Bicho do Dia: Burro (1309).

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

226º Dia: Tem Quem Queira


                 Num povoado logo ali existia um dono do lugar que mantinha todos os habitantes sob seu julgo. Ele explorava todo mundo com a frase “se tu não quer, tem quem queira”. As pessoas se sujeitavam a tudo, pois recusar uma oferta do dono, por mais degradante que fosse, era sinônimo de desamparo na certa e certeza de que outro aceitaria tal oferta descabida. O dono só aumentava seu poderio e os habitantes só pioravam sua situação. O dono já colecionava milhões de “se tu não quer tem quem queira”. E os habitantes os mesmos milhões de “eu aceito”. Um dia alguns dos habitantes começaram a tramar uma revolução, ensaiavam as escuras uma frase que todos temiam dizer “não aceito sua oferta”. Aos poucos os habitantes foram aprendendo a falar a nova frase. Alguns precisavam escrevê-la em cartilhas antes de finalmente proferi-la. Um dia, de repente, o dono do mundo começou a ouvir a frase “não aceito sua oferta” de um, depois de outro, em seguida de mais outro e assim sucessivamente. Quando se deu conta que ninguém mais queria sua oferta, o dono começou a falar para o espelho sua já nem tão infalível frase: “se tu não quer tem quem queira” e imaginava o espelho respondendo: “eu aceito”. Depois de tantas repetidas vezes, sem o dono se dar conta, o espelho era quem perguntava pra ele “se tu não quer tem quem queira” e ele era quem respondia “eu aceito”. E assim o dono ficou para sempre sob o julgo do espelho.

Música do Dia: Armadilha (Nelson Coelho de Castro).

Bicho do Dia: Elefante (9148).

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

225º Dia: O Inverno do Meu Tempo


                  Queria poder não passar tanto tempo em articulações de idosos, tosses de crianças e outros serviços para os quais sou chamada quando baixam as temperaturas e curtir um pouco mais meu inverno. Fora os trabalhos da estação, outros tantos vão surgindo e até meu tempo diário para me dedicar a este blog vai ficando escasso. Depois falam que meus textos estão perdendo a força.  Gente, eu sou só uma! E saibam que trabalhar sob pressão não funciona comigo e eu posso acabar pesando mais a mão na minha próxima visita. Pronto! Acabo de receber um convite para um fondue com vinhos. Alarme falso, como sempre. Só me convidam pra beiras de lareiras e fundis quando algum idiota se queima.

Música do Dia: Tem que Queira (Antônio Vieira).

Bicho do Dia: Touro (9883).

terça-feira, 12 de agosto de 2014

224º Dia: My Hero (Meu Herói)


                Os super-heróis envelheceram e ficaram decadentes. Uns bebiam muito, outros entraram em depressão profunda, outros foram parar em sanatórios psiquiátricos. Alguns viraram vigias noturnos. Os mais novos, que poderiam atuar contra o crime, estavam presos em álbuns de figurinhas, revistas em quadrinhos, filmes, desenhos animados, camisetas, canecas, chaveiros e suvenires de todo tipo que encalhavam nas gôndolas de liquidação. Só que o meu herói, o grande herói, está ainda por vir. Ele carrega o espermatozoide do seu maior feito, que serei eu. Pelo menos na visão dele.

Música do Dia: O Inverno do meu Tempo (Cartola). (De:Cartola & Roberto Nascimento)

Bicho do Dia: Jacaré (5060).

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

223º Dia: Toda Forma de Poder


                  Para os que almejam dominar o mundo e para os tarados em geral, um “H” entre o “P” e o “O” da palavra “poder” seria perfeito. A palavra ficaria mais charmosa, meio retrô e não mudaria em nada o significado.

Música do Dia: My Hero (Meu Herói) (Foo Fighters).

Bicho do Dia: Coelho (8539).

domingo, 10 de agosto de 2014

222º Dia: Canto dos Livres



                Foi só os Livres abrirem a voz para que a vida como se conhecia até então começasse a abrir os ouvidos. A gravidade, absorvida pelo canto, se desprendeu de sua lei e as coisas flutuaram leves. A maçã de Newton, tão acostumada à cair de madura, dançou até a boca da mulher mais próxima. A chuva começou seu processo de deschover lá pros lados do Pantanal. E muitas outras coisas tocadas pelo canto dos Livres tiraram o peso do mundo de suas costas. Notas musicais eram estalactites presos nos céu por pura vontade e beleza, ficavam lá soando, embora pudessem cair a hora que quisessem, pois mesmo que a gravidade estivesse descuidada de seus afazeres, a queda ainda era livre.
                                           
Música do Dia: Toda Forma de Poder (Engenheiros do Hawaii) (De: Humberto Gessinger).
Bicho do Dia: Pavão (6075).

sábado, 9 de agosto de 2014

221º Dia: Sonhos


                Os sonhos são fonte de inspiração para a vida. Neles acontecem as coisas impossíveis. Coisas como ficar milionário e despejar sacos de dinheiro de um helicóptero dourado para os pobres ou matar o vizinho de apartamento que deixa o volume da televisão no máximo de madrugada. Todos dizem que a pessoa tem que ter um sonho e que muito mais importante que realizá-lo, é o caminho percorrido para isso. Os sonhos também são presságios. Os sonhos podem ser palpites para o jogo. Ou são estopins para músicas, livros e arte em geral. Ou são delírios. Há os que dizem que vivemos num sonho e que o mundo real é aquele que pensamos ser sonho enquanto dormimos. Enfim, o assunto é vasto quando o tema é sonho. Não pra mim, pois não me foi dada a possibilidade de sonhar. O pouco que conheço dos sonhos vem do meu convívio entre as gentes. E outra coisa que aprendi é que nem eu com todo meu poderio posso arrancá-los de vocês, humanos. Entretanto, posso ser o seu maior pesadelo. Hahahaha! É, tá difícil escrever hoje. Então, me despeço com essa piada infame mesmo e lhes desejo bons sonhos.

Música do Dia: Canto dos Livres (Cenair Maicá).

Bicho do Dia: Aquele do seu sonho.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

220º Dia: Geografia Sentimental


                  Sandro Dornelles não deu ouvidos aos apelos dos aeroportos e do Presidente Lula para viajar de avião e resolveu encarar o trecho Trans- Sul- Sudestônico de ônibus, - relembrando a época em que fazia isso logo que foi morar no Rio. Quando o decidiu que se aventuraria pelas estradas brasileiras outra vez, decidi acompanhá-lo. Antes de sair de casa, inventei uma dorzinha de cabeça nele, decorrente do cansaço ocular para leitura gerado pela idade e pela falta dos óculos que ele ainda não comprou. Motivo para a ranzinzice dele, diversão garantida para mim. Bom, lá fomos nós. Então hoje, o texto é um diário de bordo. Antes de pegar o bus interestadual, Sandro pegou uma bumba dentro da cidade para chegar na rodoviária. Como é de praxe, ele estava atrasado. Uma das portas da tal bumba tinha um elevador para cadeirantes. Obviamente, dentro dessa bumba tinha um cadeirante, o que não é um bom presságio para quem está atrasado. Não deu outra: o elevador emperrou para descer com o cadeirante. Depois de grande luta, lá estava o cadeirante na calçada. Mas quem disse que o elevador voltava à posição inicial para o bus seguir viagem? Mais outra luta e o elevador desenguiçou. Um salve para a inclusão e pé na tábua. Já no ônibus interestadual a coisa não fugiu muito ao roteiro original tão conhecido. Os odores em geral são rebeldes, não ficam presos em espaços pequenos. Os odores de banheiro de ônibus então nem se fale, rebeldia pura, jamais se contentam ao espaço do banheiro e invadem o veículo. Durante a viagem esses odores se juntam aos cheiros clássicos de salgadinho sabor queijo com cheiro de chulé e chulé de gente com cheiro de queijo. Juntando-se ao festival, eventuais aromas de vômito fresco de nenéns entram na baila. Um salve para o convívio harmonioso entre as gentes e pau na máquina. Nas paradas para refeições você é obrigado a entrar por um lado do estabelecimento e sair pelo outro pagando bem caro por uma comida de aparência duvidosa. Um salve para o fortalecimento dos anticorpos e pernas pra que te quero. À noite, dentro da bumba, quem não tiver dramim ou algo do tipo, há de ter fé no Deus do sono, pois os carneirinhos do mal estão à solta. Compondo a sinfonia: os graves dos roncos, os médios dos multi sons dos celulares e os agudos estridentes do choro de cordas vocais infantis potentíssimos. Regendo a orquestra um cego dando encontrões pelo corredor do ônibus para chegar ao banheiro e pondo a mão nas cabeças e pisando nos pés dos outros para se guiar. Mais um salve para a inclusão e outro salve pela graça da audição. Outro fato que ocorre no transporte coletivo graças às benesses da modernidade: as tomadas dos interiores são disputadas a tapa pelos passageiros sedentos de carregar seus celulares, laptops e afins. Uma senhora gorda usou uma criança como escudo e a mamadeira dessa criança como espada para defender sua fonte de energia vital. Depois dos ânimos acalmados e de todos os aparelhos carregados vem a frustração coletiva: os cartazes nos vidros das janelas exibem a senha para o uso gratuito de um wi-fi que nunca funciona. Um salve a popularização da internet e a viagem segue seu destino. Vou poupá-los de outros detalhes da viagem e finalizar aqui meu diário de bordo. Devo dizer que toda pessoa que viaja de ônibus, tem condições de viajar de avião também. Entretanto, não desfrutará das alegrias acima citadas. Ah, ia esquecendo o meu personagem. Engraçado que em meio a tudo isso, o Sandro foi nostalgicamente desenhando a geografia sentimental de suas viagens pelo Brasil a fora e todo seu pessimismo antes de embarcar não se concretizou e a viagem foi maior de boa. Além disso, dado o looooongo tempo do trajeto Sampa – Poa, possibilitou que ele lesse quase toda obra do James Joyce em sânscrito, o que causou um certo delírio, pois em determinado momento jurou ter visto todos fumando dentro do ônibus, mas não comentou a enorme poça de baba na sua blusa. Enfim tudo correu, ou pelo se arrastou, bem. O Sandro já está planejando outra viagem como essa para o ano de 3017.


Música do Dia: Sonhos (Caetano Veloso) (De: Peninha). Homenagem ao aniversariante de ontem, Caetano Veloso. Embora a música não seja dele, gravações dele de músicas como essa são de grande importância na história da Música Brasileira.

Bicho do dia: 5325 (Carneiro).

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

219º Dia: Coisa nº 9


                  Entre todas as doenças que atacavam fulminantemente os humanoides, a Coisa Nº 9 era a mais temida. No estado avançado da doença, virava-se humano. O medo era porque depois de transformado em ser humano a morte era a única certeza.

Música do Dia: Geografia Sentimental (5 a Seco). (De: Leo Bianchini e Vinícius Calderoni). Essa música está no CD Policromo lançado recentemente mesmo. Eu recomendo.

Bicho do dia: Borboleta (9714).

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

218º Dia: Superfantástico


                Foi realmente superfantástico: rolou gorda uma lágrima pelo rosto da moça e foi caindo cameralentamente até se espalhar no chão branco mais branco que um chão pode ser. Por pouco a moça que chorou sangue não foi linchada pela turba ensandecida de pessoas-vampiro possuidoras da certeza triste de que chorar em tempos de crise como aquele era um total desperdício. Mais superfantástico ainda foi não terem cravado medievalmente os dentes na jugular indefesa da moça que ao engolir o choro sentiu um gosto de lágrima.

Música do Dia: Coisa Nº 9 (Moacyr Santos).

Bicho do Dia: cabra (3922).

terça-feira, 5 de agosto de 2014

217º Dia: No Surprises (Sem Surpresas)


                  Sinceramente, meus caros leitores, hoje estou descriativa. Uma criança diria que eu estou tão sem graça quanto um kinder ovo sem surpresa. Isso até ela apertar o dedinho na porta e ver que a vida é uma caixinha de surpresas... Brincadeirinha, gente. Eu não sou tão má assim. Então a música hoje é pros pequeninos.

Música do Dia: Superfantástico (Balão Mágico e Djavan). (De: Ignacio Ballesteros / Difelisatti / Edgar Poças).

Bicho do dia: Aquele que tem bigodes de foca, nariz de tamanduá, orelha de camelo e é tão lindo.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

216º Dia: Vida Bandida


                 Traições, crueldades, difamações, massacres, linchamentos e mais outros tantos substantivos humanos que adjetivam a vida de bandida.

Música do Dia: No Surprises (Radiohead) (De: Ed O’Brian / Jonny Greenwood / Phil Selway / Thom Yorke).

Bicho do Dia: Cachorro (5017).

domingo, 3 de agosto de 2014

215º Dia: Marcha Do Conselho


                  Já diz o ditado que se conselho fosse bom nego não dava, vendia. Entretanto, vejo que desde sempre, vocês, humanos, gostam de enfeitar, passar laço de fita e dar conselho a rodo. Se bobear daqui uns dias tão até fazendo Marcha do Conselho. Cada um sabe bem o que é melhor pra vida do outro, não pra sua própria, porque tem outro que sabe. É tipo efeito dominó, todos sabem do outro e ninguém sabe de si. E aí que começa a lambança. Uma vez vivenciei um caso raro de conselhos em série numa cidadela bem perto daqui, há um quase século atrás. Foi mais ou menos assim: o prefeito aconselhou o padre que aconselhou a beata que aconselhou o marido que aconselhou a prostituta que aconselhou o deputado que aconselhou o general que aconselhou o jornalista que aconselhou a louca que aconselhou o traveco que aconselhou o advogado que aconselhou o jogador de futebol que aconselhou o farmacêutico que aconselhou a atriz que aconselhou o poeta que aconselhou o bêbado que aconselhou a cafetina que aconselhou o prefeito. E assim a cidade prosperou para o todo o sempre.

Música do Dia: Vida Bandida (Lobão) (De: Bernardo Vilhena / Lobão). Como o Lobão era legal nessa época. Saia desse corpo que não te pertence!!!

Bicho do dia: Lobinho (Aquele aspirante a escoteiro).

sábado, 2 de agosto de 2014

214º Dia: El Arriero Va


                  Um chopinho de sábado à tarde com minha amiga CULPA pra botar a conversa em dia. Meus pensares vocês leem todo dia. Então fiquem com o palavreado apurado e meigo desta minha amiga e sua visão um tanto peculiar. É um olho no mundo e um dedinho de moça na ferida:

“Minha intenção era escrever no dia do stand up. Não deu, ok sem culpa. Vamos do bob Marley ao Yupanqui sem maiores melindres. A questão é que queria falar de pseudo-comediantes e fase anal – apesar de saber que o Medo é sempre mais psicológico que eu e, portanto, mais habilitado a tratar desses assuntos freudianos.
Uma vez presenciei um vacilão pagando de malandro e aplicando numa estudante de psicologia o que era fase anal. Pegou carona na explicação da acadêmica, que dissertava sobre a fase da oralidade, onde ela explicava a uma mesa de bar que nessa fase a criança está provando o mundo e por isso coloca na boca tudo o que acha. O bocó não se emendou e lascou que fase anal era onde o nenê enfiava coisas no ânus. A menina que não era trouxa perguntou se o barbado tinha gostado de passar por essa fase. Ele enrubesceu, deu o prefixo e saiu do ar. 
Ninguém me perguntou, mas segundo o pai da psicanálise a fase em questão tem haver com o controle dos esfíncteres, ou seja, quando a criança se dá conta que faz coco e xixi. Então esse ser inerme e estúpido passa a ter a sensação que produz algo, que dá algo de presente ao mundo.
É aí que esses bichos humanos constroem sua relação com aquilo que produzem. Criança, cuja a mãe tem nojo da merda, fica com nojo de tudo aquilo que produz, tem vergonha de tudo que faz ou fala.  Criança que a mãe faz festa pras fezes passa ter uma relação equilibrada com aquilo que constrói, e criança que fica cagada acha que ninguém dá muita bola para aquilo que produz daí acha que pode fazer de tudo – fica sem limite.
Não sei não, mas dito isso acho que dá para afirmar que Danilo Gentili, Rafinha Bastos e sua turma de standups passaram a infância enterrados nas próprias fezes. Provavelmente a´te o pescoço. Pra mim é tudo filhinho, tudo netinho da vovó. Tudo menininho cagadinho. Guri que podia fazer de tudo: xingar a tia, ofender o vizinho, bater em criança menor, e a mamãe dizendo “o Rafinha é assim mesmo”. Fazer desaforo para os velhos, debochar de deficiente físico e mamãe dizendo “como o Danilo é espirituoso”.  Tente assistir ao que esses rapazes chamam de espetáculo e tu verás a concretização da criança que ficou imersa nos próprios excrementos, concretizando-se no adulto crente de que está agradando o mundo com sua com diarréia mental. Um adulto, se é que se pode lhes dar esse nome, que pensa que a ofensa e o insulto gratuitos são capazes de graça.
Pena que para esses não se pode fazer com que a fase anal coincida com a explicação do vacilão. 
Desculpem se o texto ficou escatológico e sem graça. Não estou para piadas nem para os piadistas de dente de leite. Como dizia o “velho e o punk” “las penas y las vaquitas/
se van par la misma senda/ las penas son de nosotros/ las vaquitas son ajenas”.”

Viu só? O humor também é pra fazer rir minha gente!

Música do Dia: Marcha do Conselho (Roberto Paiva – Grande nome da Música Popular Brasileira falecido a dois dias atrás). (Música de: Paquito e Romeu Gentil).

Bicho do Dia: Burro (9510).

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

213º Dia: Molambo


                  Um certo Sr. Dornelles tem me cobrado mais atitudes políticas nos meus textos. Ontem perdi um pouco a paciência com ele, mas já passou. Entendo as cobranças dele. Entretanto, se ele prestasse mais atenção nas coisas ao redor veria que tenho feito das tripas coração para poder publicar meus textículos diariamente. Os da espécie dele tem me dado um trabalheira e tanto e se não sou tudo que sou já estariam me chamando de Molamba por aí. Mas eu guento a ôia, malandro. Até pra horário eleitoral tenho sido chamada. Tá doído ver esses tipos que estão se candidatando. Fora isso, onde gasto no máximo meu arsenal mais leve e divertido, tem coisas que apavoram mesmo. Basta um nome pra vocês, humanos, verem o quanto tenho dado meu sangue: GAZA. Vi num jornal os americanos do norte se desculpando sobre a continuidade de fornecer armas para Israel. Segundo eles, são atividades paralelas que não podem parar, mas pedem encarecidamente que os israelenses atinjam o menor número possível de civis palestinos. Ufa, que bom! Já começava a duvidar da bondade do Tio Sam. E lá vou eu na ponta das balas e bombas pra abater os filhos e fazer chorar as mães. Olho pro lado, respiro um pouco e já corro pra acalentar Rússia e Ucrânia. No Brasil o trabalho também não para. Quem foi o idiota que deixou o tigre preso na jaula? Quem foi o energúmeno que disse para os pais que os filhos podem fazer o que bem quiserem? Quem foi a anta que destampou o ralo e está sumindo com a água de São Paulo? Quem disse que interessa quantos mil dólares famosos e jogadores de futebol gastam em baladas? Em quem vocês vão votar nas próximas eleições? Como já venho falando desde os primeiros dias de blog, eu estou pouco me fudendo. Eu cumpro com meus deveres, então, por favor, cumpram com os de vocês e me deixem escrever poemas, crônicas, contos, mini-contos e afins em paz. Eu nasci um pouco depois de Adão e seus descendentes foram me dando a certeza que brilhar era meu destino. Portanto, jamais serei Molamba ou Molambo. Quanto ao belo planeta de vocês, pelo desandar da carruagem, é forte candidato a sê-lo.

Música do Dia: El Arriero Vá (Atahualpa Yupanqui).
http://www.youtube.com/watch?v=7enztRmXJOA (versão banda Divididos).

Bicho do Dia: Las Vaquitas (1300).