Num povoado logo ali existia
um dono do lugar que mantinha todos os habitantes sob seu julgo. Ele explorava
todo mundo com a frase “se tu não quer, tem quem queira”. As pessoas se
sujeitavam a tudo, pois recusar uma oferta do dono, por mais degradante que
fosse, era sinônimo de desamparo na certa e certeza de que outro aceitaria tal
oferta descabida. O dono só aumentava seu poderio e os habitantes só pioravam
sua situação. O dono já colecionava milhões de “se tu não quer tem quem queira”.
E os habitantes os mesmos milhões de “eu aceito”. Um dia alguns dos habitantes começaram
a tramar uma revolução, ensaiavam as escuras uma frase que todos temiam dizer “não
aceito sua oferta”. Aos poucos os habitantes foram aprendendo a falar a nova
frase. Alguns precisavam escrevê-la em cartilhas antes de finalmente
proferi-la. Um dia, de repente, o dono do mundo começou a ouvir a frase “não
aceito sua oferta” de um, depois de outro, em seguida de mais outro e assim
sucessivamente. Quando se deu conta que ninguém mais queria sua oferta, o dono
começou a falar para o espelho sua já nem tão infalível frase: “se tu não quer
tem quem queira” e imaginava o espelho respondendo: “eu aceito”. Depois de
tantas repetidas vezes, sem o dono se dar conta, o espelho era quem perguntava
pra ele “se tu não quer tem quem queira” e ele era quem respondia “eu aceito”.
E assim o dono ficou para sempre sob o julgo do espelho.
Música
do Dia: Armadilha (Nelson Coelho de Castro).
Bicho
do Dia: Elefante (9148).
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