Quando não se tem onde morar
dizem que o sujeito vai pra debaixo da ponte. Em alguns casos, de tão
precários, é até um eufemismo. Fato é
que muitos realmente vão e outros tantos moram debaixo da ponte. Caminhos para
os pés de uns, tetos para as cabeças de outros sem-tetos. Sei da minha
convivência com essas gentes. Também sei dos momentos em que parti e vi de longe
um sorriso amarelo e banguelo estampado na cara dessas mesmas gentes. Um
sorriso com a mesma intensidade de felicidade como qualquer outro. Até mais
intenso, pois achar um sorriso entre papelões-parede, bugigangas-móveis e
viadutos-teto é bem raro. Pois é, vocês, humanos, não me surpreendem mais na
sua capacidade de fazer merda, mas sempre me pegam de surpresa quando consigo
ver humanidades tão finas em situações às vezes tão desumanas. Creio que meu
texto tocaria muito mais as pessoas se fosse publicado em época natalina.
Lamentam desapontá-los, mas as pontes continuam lá, monumentais e
arquitetonicamente armadas, esperando que seus olharem se voltem para elas ou
para debaixo delas, independente do papai Noel.
Música
do Dia: Jura (Mario Reis)(De: Sinhô).
Bicho
do Dia: Jacaré (2257).
Nenhum comentário:
Postar um comentário