(Domingo, 02 de novembro de 2014)
A estrada fabricava poeira aos
borbotões. Embora borbotão seja mais usado para líquido, me forço a pensar que
a poeira é a lágrima da estrada e esta era uma estrada que chorava muito e
assim justifico os borbotões. Enfim, era poeira pra mais de metro. Já chamavam
aquela estrada de Tempestade de Areia, tal era a massa de poeira. Um dia um
lagarto atravessador de estrada foi parar nesse tal trecho empoeirado. Ele já
era malaco de não ser atropelado. No meio daquele mar de poeira, lá foi o tal
lagarto cruzar a estrada de um lado para o outro, no não enxergar do momento se
foi cheio de instintos como olhos. Passo nada largo do lagarto lento. Um
caminhão pesado vinha na poeirenta estrada no veloz das rodas. Cálculos físicos
de velocidade, atrito, massa, tempo e distância misturados ao empoeirado da
coisa davam por certo um atropelamento. Entretanto, tal poeira cegou os olhos
dos cálculos físicos que davam por certa a tragédia e eles não viram nada. No
seu mundo de prever, não viram que o lagarto só sentiu o vento forte do
caminhão passando rente ao seu corpo e que comeu um tanto de poeira, no mais,
saiu ileso. Os cálculos físicos pegaram carona e viraram dizeres no para-choque
do caminhão que seguiu seu rumo, indiferente a cálculos físicos, lagarto e a
essa história que jamais seria contada se a chuva tivesse chegado um pouco
antes e baixado a poeira.
Música
do Dia: Último Desejo (Aracy de Almeida) (De: Noel Rosa).
Bicho
do Dia: Carneiro (7125).