Parca era a esperança. Vivia-se
por pura teimosia. Até o momento em que se começasse a cantar. Tudo se banhava
de novas cores, novos ares. Naquele lugar a menor voz tinha poderes de gigante.
Os galos cantadores arrancavam as manhãs de seus bocejos. As cigarras cantadeiras
espremiam as nuvens para que as gotas de orvalho umedecessem o deserto das
línguas. Conhaques vagabundos machucavam e emocionavam cordas vocais extraviadas
pelo tempo. Um tom metal grunhia raios e quebrava maldições. A cegueira fazia com
que a voz pingasse moedas nas latinhas. Mas os maiores cantores dentre todos
sem destino do lugarejo eram os que tinham sido benzidos e tocados pelas mãos
aveludadas e cruas do relento.
Música
do Dia: O Amanhã é Distante (Geraldo Azevedo). (Bob Dylan – Versão: G. Azevedo
e Babau).
Bicho
do Dia: Galo (4951).
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