Sete e meia da tarde.
Resolveu abrir a janela do quarto. O sol já tinha ido embora. Assim como ela.
Parecia que não veria mais nada. Lembrava apenas da última frase inteligível
que tinha ouvido no turbilhão da rua de uns dias atrás. Você nunca mais vai me
ver, então guarde nos olhos essa imagem minha de adeus, ela disse. Ele a guardou
a sete chaves e pediu aos deuses que o cegassem. Como não foi atendido, vendou os
próprios olhos. E por intermináveis dias só viu a imagem do adeus na sua
cegueira inventada. Caminhava trôpego pelo apartamento cúbico. Sete e meia da tarde
de uns dias depois abriu a janela de novo e cego pela venda e pela lembrança e
indiferente à existência do sol subiu no parapeito do prédio de 20 andares que dava para um abismo profundo. Durante a queda criou asas e voou
leve para às sete e meia da tarde de uns dias antes onde o sol ainda existia na
claridade do sorriso dela.
Ps.: Dedico esse texto aos amigos do
Sandro Dornelles: Reynaldo Bessa, Bruno Batista e Élio Camalle.
Música
do Dia: Paraquedas (Russo Passapusso).
Bicho
do Dia: Gato (4154).
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