Eu, a DOR, voltei. Tenho um
coração selvagem, mas sempre volto para o convívio com vocês, humanos. Na
verdade sempre estive por aqui, só que disfarçada. Meus poderes de semideusa me
proporcionaram fazer como deus faz pra testar as gentes quando estende sua mão
pedindo esmola disfarçado de mendigo, e então saí por aí disfarçada vendo bem
de perto os acontecimentos do mundo. Vi coisas do arco, da flecha e do alvo da
velha. Vocês, humanos, são realmente insuperáveis no quesito ignorância. Poderia
enumerar aqui uma lista de coisas horrendas, mas acho que cada um deve por a
mão na consciência e reconhecer seus erros. Até porque se não fizerem isso eu
faço, eu boto minha mão na consciência de vocês e, podem ter certeza, vão
pensar que a estou botando em outro lugar, porque vai ser bem mais dolorido
aprender comigo do que com vocês mesmos. Essa onda de ódio, de intolerância religiosa,
de moralismo barato contra a arte e outras ignorâncias, já deram no meu saco e
olha que nem tenho um, mas sei bem onde é o de vocês e ali é que minha
existência se faz feliz e vigorosa. Pois é, eu voltei!
O
mais engraçado é que a última música que indiquei aqui no blog quando do meu último
escrito foi uma do Belchior. Na época ele ainda era vivo. Não poderei mais
trocar uma idéia com ele, não que nunca tenhamos trocado, acho que em muitas de
suas belíssimas canções eu estava presente, mas que ele descanse em paz porque
meu assunto é e sempre será com os vivos. É com você, humano, que está aí
querendo me matar, com os olhos cheio de ódio, só porque estou aqui, linda e
nua, completamente nua, escrevendo esse texto na vitrine de um xópim, é com
você, que quero muito trocar uma ideia.
Música
do Dia: Ela Partiu (Tim Maia).
Bicho
do Dia: Burro (1409).