Por fim descobriu-se que a
notícia era verdadeira. O beijo guardado no alto da Torre era o último dos
beijos. Depois daquele último beijo o amor seria profissionalizado para sempre.
“Transe, copule, trepe, meta, fôda, coma, faça o que for, mas não beije na boca!”. Claro, como
beijar se o beijo acabar? Só que o que viesse depois não importava, o
importante era proteger o beijo do alto da Torre. O último. Diásporas do mundo
todo estavam se dirigindo para os arredores da Torre. Pensava-se em repartir o
beijo. Missão quase impossível. Para contemplar a todos teriam que dividir o
beijo em partículas menores que o átomo. Gentes e mais gentes chegavam e
começaram a exigir que pelo menos se exibisse o beijo lá do alto da Torre. O
ancião que vigiava há séculos a porta de entrada para o ambiente onde fica o
beijo foi incumbido de tal tarefa. Abriu a janela para a sacada do alto da
Torre e mostrou o beijo para o mundo. E o mundo olhou maravilhado para aquele
que era o último beijo. Cada um lembrou do seu beijo inesquecível: o de boa
noite do pai, o primeiro, o carinhoso do irmão, o sofrido, o roubado, enfim,
cada um ali ao redor da Torre tinha um beijo em sua mente. O mundo naquele
pequeno instante era um enorme beijo e tinha beijo pra todo mundo. Num momento
de descuido o ancião deixou o beijo cair lá do alto da Torre. Houve um silêncio
de morte nas bocas dos rostos cujos olhos não acreditavam no que viam. E viram
o último beijo se espatifar no chão. Na mente da cada um a lembrança virou
esquecimento e o silêncio virou histeria. Uma multidão de esfomeados carentes se
engalfinhava por migalhas de beijo.
Música
do Dia: Estadia (Daniel Conti). (De: D. Conti / Bruna Moraes / Peter Mesquita /
Marília Duarte). (Estadia é também o nome do CD de estreia do compositor Daniel
Conti que tem lançamento previsto pro segundo semestre de 2014).
Bicho
do Dia: Macaco (7566).
Lindo!
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