Muitos reclamam e sofrem com
o famoso vazio existencial. Tudo bem que não é lá um sentimento muito agradável.
Mas meu amigo, o MEDO, pode falar melhor sobre o assunto.
“Essa
manhã tive dor de cabeça já no segundo gole de cerveja - e antes que alguém
venha com sermão chauvinista pendendo pro lado da sociedade dos sãos e livres
de vícios - vou logo avisando que sou um alcóolista em potencial. É que eu hoje
tive um pesadelo e acordei atento, a tempo... não, péra! Isso dizia a música
que o Ney cantava no rádio enquanto fui abortado de um sonho lindo que me gestava
em pleno frio de oito graus Celsius. O cara dizia que tinha acordado com Medo e
que havia procurado no escuro sei lá quem. Alto lá: acordou com Medo coisa
nenhuma, que eu tava bem quieto na minha chupando meu chicabom da solidão –
como perspicazmente profere Xico Sá, quando em vez, em textos de fazer o
cidadão chamar a mãe – no afago do travesseiro de penas de concriz furta-cor.
No meu sonho eu sequer existia. Existia só o vazio. Nada de Medo, nada das
minhas coleguinhas pin-ups Dor e Culpa que vivem a desassossegar os corações e
as faringes dos tadinhos que são vocês. Completo e total vazio existênci,
subistanci e emergencial, sacam? Também não existia Amor, Paciência, nem
Desejo, nem carro de telemensagens, nem iogurte Grego com calda de frutas
vermelhas: nadinha. E eu era feliz e vocês também. Pensem comigo, vocês não precisavam
sequer ter coragem de existir, pra ter que se dar ao trabalho de me acessar,
inclusive pra desexistir - essa é pra tu que ameaçou se matar semana passada e
tá aí anda. Pensaram em que maravilha de sonho me meti? Eu não ia precisar nem
tirar meu pijaminho de manhã pra pegar o jornal na esquina. Não ia ter esquina
pro jornaleiro ter medo de ser roubado. Mas é isso. Acordei e vos digo: sentir
vazio é melhor que me encontrar, mas cêis são teimosos...”
O
MEDO sabe das coisas. Sem mais.
Música
do Dia: Desvãos (Mateus Sartori). (De: Zé Modesto)
Bicho
do Dia: Águia (1106).
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