Novas Histórias

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Foto de Ju Vinagre

domingo, 27 de julho de 2014

208º Dia: Clandestino


                Um clandestino, criminoso ou não, é tratado como tal pelas autoridades. Costumo acompanhar esses pobres, uns pela saudade de sua terra natal, outros pelas atrocidades que comentem contra outrem. A mim não interessa o motivo, cumpro meu dever e pronto, não preciso de bom senso, as autoridades sim. Uma vez fui visitar um clandestino bem jovem, imigrante ilegal que sofria de saudades dos seus que tinham ficado num país pobre da África. Ele já estava com saudade até da pobreza de lá, que era uma pobreza diferente da que vivia agora. A miséria de agora tinha requintes de crueldade. Este jovem era mais um ser perdido, longe de sua pátria, mão de obra barata no novo país, perseguido, mal visto e se alimentando do pão que o diabo amassou. Um dia ele decidiu que voltaria para sua casa. Dois sujeitos o convidaram para assaltar uma joalheria. Dividiriam o ganho do roubo e ele voltaria pra casa. Com o trabalho que tinha não juntaria dinheiro nem se trabalhasse durante sete vidas. Topou ser comparsa no assalto. Foi um ato de desespero. A caminho da joalheria a única coisa em sua mente era não desistir. Seria só essa vez e voltaria pra casa de onde nunca deveria ter saído. Pôs o capuz e entrou na joalheria. Papéis picados e línguas de sogra surgiram do nada e todos bateram palmas para ele. As pessoas o abraçavam, choravam e se mostravam condescendentes com a situação do jovem clandestino que só deu conta do que acontecia quando viu as câmeras filmando sua cara de palhaço. Sim, aquilo era uma pegadinha da TV. Todos riam. Ele pensou em abrir fogo contra todos e dar um show de verdade, mas certamente a arma que seus comparsas lhe tinham dado estava carregada com balas de festim.

Música do Dia: Nega Dina – Diz que fui por aí (Zé Keti)
Bicho do Dia: Camelo (1232).

Filme da Semana: Nove Rainhas (Direção: Fabian Bielinsky). 

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