Um clandestino, criminoso ou
não, é tratado como tal pelas autoridades. Costumo acompanhar esses pobres, uns
pela saudade de sua terra natal, outros pelas atrocidades que comentem contra
outrem. A mim não interessa o motivo, cumpro meu dever e pronto, não preciso de
bom senso, as autoridades sim. Uma vez fui visitar um clandestino bem jovem,
imigrante ilegal que sofria de saudades dos seus que tinham ficado num país
pobre da África. Ele já estava com saudade até da pobreza de lá, que era uma
pobreza diferente da que vivia agora. A miséria de agora tinha requintes de
crueldade. Este jovem era mais um ser perdido, longe de sua pátria, mão de obra
barata no novo país, perseguido, mal visto e se alimentando do pão que o diabo
amassou. Um dia ele decidiu que voltaria para sua casa. Dois sujeitos o
convidaram para assaltar uma joalheria. Dividiriam o ganho do roubo e ele voltaria
pra casa. Com o trabalho que tinha não juntaria dinheiro nem se trabalhasse
durante sete vidas. Topou ser comparsa no assalto. Foi um ato de desespero. A
caminho da joalheria a única coisa em sua mente era não desistir. Seria só essa
vez e voltaria pra casa de onde nunca deveria ter saído. Pôs o capuz e entrou
na joalheria. Papéis picados e línguas de sogra surgiram do nada e todos
bateram palmas para ele. As pessoas o abraçavam, choravam e se mostravam condescendentes
com a situação do jovem clandestino que só deu conta do que acontecia quando
viu as câmeras filmando sua cara de palhaço. Sim, aquilo era uma pegadinha da
TV. Todos riam. Ele pensou em abrir fogo contra todos e dar um show de verdade,
mas certamente a arma que seus comparsas lhe tinham dado estava carregada com
balas de festim.
Música
do Dia: Nega Dina – Diz que fui por aí (Zé Keti)
Bicho
do Dia: Camelo (1232).
Filme
da Semana: Nove Rainhas (Direção: Fabian Bielinsky).
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