Novas Histórias

Novas Histórias
Foto de Ju Vinagre

quarta-feira, 19 de março de 2014

78° Dia: A saber o Sabor

                  Quase viro abóbora, mas cheguei a tempo. 
Parece, quando vejo alguns comentários, curtidas, likes e coisas do gênero nas redes sociais, que vocês, humanos, gostam de qualquer merda sem nem ao menos saber o sabor. É como se fosse o inverso de uma criança que diz “eu não gosto” sem nunca ter comido o que lhe é oferecido, vocês dizem “eu gosto” sem nem imaginar o gosto da coisa. Eu tenho visto de tudo ultimamente. Dia desses, eu defendi as marchinhas (até compus uma) e as marchas de toda ordem. Pensei que não veria nada mais absurdo que o rei do gado voltando a comer carne, o que também foi tema de um texto meu em parceria com minha amiga culpa no sábado último. Mas o que vi agora a pouco me fez cair o cu da bunda. Um rapaz de óculos escuros falando sobre uma marcha em defesa da família, de deus e do sei lá mais o quê, que eu pensava ser um personagem desses programas ruins de humor, está sendo levado a sério por um monte de gente. Fui consultar os alfarrábios da história e vi que sim, lunáticos podem comandar milhões de pessoas para cometerem atrocidades, assaltos, guerras e até suicídio coletivo. Minha pesquisa sobre Marchas me levou aos manifestos. Teve uma época em que tudo que se fazia acabava virando manifesto. Manifesto disso, manifesto daquilo. Acabou que os manifestos perderam o sentido de ser. Tipo o roqueiro lobo mau, que criticava as propagandas de iogurte que diziam que tomar uma atitude era tomar dan’up, e hoje virou caricatura dele mesmo e tudo que ele critica parece piada de mau gosto. Mas deixemos os lobos maus, os três porquinhos e os contos da carochinha pra lá. Voltemos ao homem de óculos escuros e sua marcha da TFP tardia. Meu querido, porque você não vem falar comigo? Tenho tantas coisas pra dizer no seu ouvidinho. Coisas que os que foram torturados falaram pra mim, para não abrir o bico para os torturadores. Coisas que os filhos órfãos dos desaparecidos choraram pra mim. Coisas que as mães dos assassinados me suplicaram até o último suspiro de vida por não acreditar no sumiço que deram nos seus filhos. Coisas do arco da velha, meu caro. Ainda dá tempo. Prometo não chegar de alicates e agulhas embaixo de sua unha, nem de eletrochoques, muito menos de afogamentos, espancamentos ou cabos de vassoura no seu ânus. Tire seus óculos escuros e deixe rolar suas lágrimas de arrependimento, eu prometo ser sutil. Ou volte para o lugar de onde nunca deveria ter saído: esses programas de humor que pelo baixo nível de qualidade beiram a tristeza.

Música do Dia: Cruel (Luiz Melodia e Escola de Música da Rocinha) (De: Sérgio Sampaio).

Bicho do Dia: Os Lobos da Marteleti (Uma homenagem ao amigo dos óio de cão danado).

Nenhum comentário:

Postar um comentário