74º Dia.
Antes
de escrever o texto do dia tenho uma surpresa. A partir de hoje, terei uma
correspondente que escreverá comigo uma vez por mês aqui neste blog. Será,
portanto, um texto escrito a quatro mãos. Ela só não escreveu em janeiro e
fevereiro, porque estava muito atarefada, enfiando seu dedinho no bolo da
consciência de vocês, humanos. Mas aí está ela: minha amiga, filósofa e escritora, a CULPA.
74º Dia: Mistérios
O
mundo de vocês, humanos, é, sem sombra de dúvida, surreal, justamente pelo fato
de ser cercado de mistérios. Assistimos a propaganda do Rei que voltou a comer
carne. Um Rei perde seu trono por muito menos que isso. Sua Majestade (sua, não nossa) proto-agoniza um comercial de bife
industrial posando de sujeito família, cercado de parentes cenográficos, num
cenário que pela alvura, parece mais um comercial de modess – aliás, os outros
reclames da mesma firma, habitados pelo recorrente bom moço de farta plumagem
negra, também são excessivamente alvos para quem vende carne vermelha.
Reza a
lenda que o cachê real foi de 25 milhões de reais e corre a boca pequena da
corte que o conglomerado multinacional de abate animal exigiu a perna sã
da alteza para processar como carne moída, guisado e picadinho, concedendo assim mais nobreza seus cortes bovinos.
A
estratégia mercadológica seguiria a tradição da indústria alimentícia
brasileira que já acrescentou marido japonês à farinha de churrasco. I ó que
esquartejamento só: boi, rei, japonês e o diabo a quatro, digno de fazer inveja
a um Jack Estripador.
A sequência do comercial estava sendo gravada, mas não
irá ao ar, não por motivos éticos como defendem os ambientalistas, mas por
causas técnicas. Durante as filmagens que envolveriam a famosa cena de
autofagia do rei, Macunaíma adentrou o estúdio roubando a bisteca.
O
agora rei do gado, roubado, saiu em perseguição pulando na prótese de madeira
gritando “carne da minha perna”. Depois do sucesso estrondoso e bizarro da
trilha da primeira propaganda com um “eu voltei!” com ares de ritual satânico, a segunda propaganda encerraria ao som de “como é
grande o meu amor por você” com a Surrealeza despedindo-se do mais novo membro
amputado. Realmente, não está sendo fácil. Pra ninguém. E a frase final
será infame. Mas sintam vocês a CULPA e a DOR: é melhor ver isso, que ser filho
do Rei.
Música do Dia: Qualquer Jeito (Não está sendo Fácil). (Kátia)
(De: Bob McDill / Versão: Roberto e Erasmo) (Uma homenagem ao colaborador do
Dia - e do mês - Cristiano Bernardes)
Bicho do Dia: Tripod, o Cachorro da capa do disco do Alice in
Chains.
Trecho do filme Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade, baseado no livro homônimo, de Mário de Andrade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário