Novas Histórias

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Foto de Ju Vinagre

sábado, 15 de março de 2014

74º Mistérios:

74º Dia.           
Antes de escrever o texto do dia tenho uma surpresa. A partir de hoje, terei uma correspondente que escreverá comigo uma vez por mês aqui neste blog. Será, portanto, um texto escrito a quatro mãos. Ela só não escreveu em janeiro e fevereiro, porque estava muito atarefada, enfiando seu dedinho no bolo da consciência de vocês, humanos. Mas aí está ela: minha amiga, filósofa e escritora, a CULPA. 

74º Dia: Mistérios
                O mundo de vocês, humanos, é, sem sombra de dúvida, surreal, justamente pelo fato de ser cercado de mistérios. Assistimos a propaganda do Rei que voltou a comer carne. Um Rei perde seu trono por muito menos que isso. Sua Majestade (sua, não nossa) proto-agoniza um comercial de bife industrial posando de sujeito família, cercado de parentes cenográficos, num cenário que pela alvura, parece mais um comercial de modess – aliás, os outros reclames da mesma firma, habitados pelo recorrente bom moço de farta plumagem negra, também são excessivamente alvos para quem vende carne vermelha.
 Reza a lenda que o cachê real foi de 25 milhões de reais e corre a boca pequena da corte que o conglomerado multinacional de abate animal exigiu a perna sã da alteza para processar como carne moída, guisado e picadinho, concedendo assim mais nobreza seus cortes bovinos.
A estratégia mercadológica seguiria a tradição da indústria alimentícia brasileira que já acrescentou marido japonês à farinha de churrasco. I ó que esquartejamento só: boi, rei, japonês e o diabo a quatro, digno de fazer inveja a um Jack Estripador.
A sequência do comercial estava sendo gravada, mas não irá ao ar, não por motivos éticos como defendem os ambientalistas, mas por causas técnicas. Durante as filmagens que envolveriam a famosa cena de autofagia do rei, Macunaíma adentrou o estúdio roubando a bisteca.
O agora rei do gado, roubado, saiu em perseguição pulando na prótese de madeira gritando “carne da minha perna”. Depois do sucesso estrondoso e bizarro da trilha da primeira propaganda com um “eu voltei!” com ares de ritual satânico, a segunda propaganda encerraria ao som de “como é grande o meu amor por você” com a Surrealeza despedindo-se do mais novo membro amputado. Realmente, não está sendo fácil. Pra ninguém. E a frase final será infame. Mas sintam vocês a CULPA e a DOR: é melhor ver isso, que ser filho do Rei.

Música do Dia: Qualquer Jeito (Não está sendo Fácil). (Kátia) (De: Bob McDill / Versão: Roberto e Erasmo) (Uma homenagem ao colaborador do Dia - e do mês - Cristiano Bernardes)
Bicho do Dia: Tripod, o Cachorro da capa do disco do Alice in Chains.

Trecho do filme Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade, baseado no livro homônimo, de Mário de Andrade.
http://www.youtube.com/watch?v=nLrMJywIm_E

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