O poeta já disse que todo o
silêncio está grávido de som. Então que distribuam camisinhas e anticoncepcionais
entre os silêncios, pois o barulho é grande. Dizem que essa alta taxa de
natalidade no planeta silêncio se deve ao constrangimento que causa a maioria
dos silêncios entre duas ou mais pessoas, daí o nascimento cada vez mais brutal
de ruídos, sons e afins. Bom, eu diria
pra vocês tentarem conviver mais com o silêncio. Mirem-se no exemplo dos
surdos. Historicamente, sei que o
silêncio é anterior a mim. O silêncio estava presente no sopro da criação. Nas nuvens,
gases e moléculas de hidrogênio. No começo do primeiro molde do mundo. Nos
desengonçado e disforme corpo dos seres de citoplasma sem núcleo. E o silêncio
foi indo. Depois de céu, terra, água, fogo e ar, cada um no seu lugar, o
silêncio foi parindo trovões, o chuá chuá das águas, os sons do animais, mas
permanecia calado no crescer subterrâneo das raízes, no despontar dos primeiros
pelos, e veio vindo através dos séculos escondido na água benta plácida dos
cultos vociferantes, escondido no quase suspirar do cansaço das falas, na inércia
da turbina dos aviões, no sono dos bebês. O silêncio... o silêncio... O silêncio
do sorriso de cumplicidade, o silêncio de ver o tempo passeando pelas rugas no
espelho. E o silêncio que mais amo, meu parceiro, o meu silêncio. Aquele para o
qual eu abro caminho, principalmente o silêncio do desamor, aquele doído em sua
mudez tamanha de olheiras fundas, aquele que vê o amor indo embora. Não fossem
meus trabalhos blogueanos, mataria a saudade desse silêncio. Portanto, esse
silêncio que vem de você, vem, na verdade, de mim.Tem dias que estou assim, sentimental.
Música
do Dia: Sentimental Demais (Altemar Dutra) (Homenagem a colaboradora do dia
Dandara) http://www.youtube.com/watch?v=BUh3C1YcwFI
Bicho
do dia: Porco-Espinho (3770)
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