Novas Histórias

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Foto de Ju Vinagre

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

50º Dia: Esse Silêncio

                    O poeta já disse que todo o silêncio está grávido de som. Então que distribuam camisinhas e anticoncepcionais entre os silêncios, pois o barulho é grande. Dizem que essa alta taxa de natalidade no planeta silêncio se deve ao constrangimento que causa a maioria dos silêncios entre duas ou mais pessoas, daí o nascimento cada vez mais brutal de ruídos, sons e afins.  Bom, eu diria pra vocês tentarem conviver mais com o silêncio. Mirem-se no exemplo dos surdos.  Historicamente, sei que o silêncio é anterior a mim. O silêncio estava presente no sopro da criação. Nas nuvens, gases e moléculas de hidrogênio. No começo do primeiro molde do mundo. Nos desengonçado e disforme corpo dos seres de citoplasma sem núcleo. E o silêncio foi indo. Depois de céu, terra, água, fogo e ar, cada um no seu lugar, o silêncio foi parindo trovões, o chuá chuá das águas, os sons do animais, mas permanecia calado no crescer subterrâneo das raízes, no despontar dos primeiros pelos, e veio vindo através dos séculos escondido na água benta plácida dos cultos vociferantes, escondido no quase suspirar do cansaço das falas, na inércia da turbina dos aviões, no sono dos bebês. O silêncio... o silêncio... O silêncio do sorriso de cumplicidade, o silêncio de ver o tempo passeando pelas rugas no espelho. E o silêncio que mais amo, meu parceiro, o meu silêncio. Aquele para o qual eu abro caminho, principalmente o silêncio do desamor, aquele doído em sua mudez tamanha de olheiras fundas, aquele que vê o amor indo embora. Não fossem meus trabalhos blogueanos, mataria a saudade desse silêncio. Portanto, esse silêncio que vem de você, vem, na verdade, de mim.Tem dias que estou assim, sentimental.

Música do Dia: Sentimental Demais (Altemar Dutra) (Homenagem a colaboradora do dia Dandara) http://www.youtube.com/watch?v=BUh3C1YcwFI

Bicho do dia: Porco-Espinho (3770)

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