As linhas do Caderno foram indo
embora uma a uma. Elas não concordavam que o caderno se fechasse para todos e
que não deixasse que ninguém se abrisse pra ele. O problema é que o Caderno
estava deprimido demais. Só uma das linhas tinha entendido isso e foi ela a
única que ficou no Caderno depois que todas as outras foram embora. Fiel
escudeira do triste Caderno, a Linha tentava de toda forma fazer com que ele se
abrisse pro mundo. Nem lápis, nem caneta, qualquer coisa que se aproximasse do
Caderno era repudiado por ele. Sua depressão chegou ao ápice. Pegou a Linha e
com ela pretendia se enforcar, mesmo contra a vontade dela. O Caderno passou a
Linha no pescoço, subiu no na mesa e estava pronto pra pular. Segundos antes do
Caderno cometer o suicídio, a Linha chorou uma lágrima de tinta. A tinta mais doída
e escura que já se viu. Quando a lágrima- tinta pingou no branco virgem do
Caderno, ele ficou maravilhado. Desatou a Linha do lustre, tirou-a do pescoço e
a abraçou forte. Tinha, por fim, entendido o sentido de sua existência.
Música
do Dia: Hold On (Tom Waits).
Bicho
do Dia: Peru (9657).
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