Novas Histórias

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Foto de Ju Vinagre

domingo, 12 de outubro de 2014

285º Dia: Cantiga de Ronda


                  O Guarda Noturno sempre assobiava suas cantigas preferidas nas suas solitárias rondas. Era um hábito adquirido desde criança quando seu pai ouvia as cantigas no radinho de pilha para assoviá-las depois em suas rondas. Para o homem noturno, os assovios o faziam voltar a ser criança e a ter a presença do pai por perto, na lembrança.  Naquele momento estava se lembrando de um dia em que seu pai o ensinou a imitar o canto dos pássaros para distrair e enganar a fome. A fome não aparecia para as crianças que sabiam imitar pássaros, dizia o pai. E era assim que ele e os irmãos ficavam dias sem comer. Sua irmã mais nova, Marina, não sabia assoviar direito e era a que mais passava fome e ele dividia a fome com a irmã para que ela não sofresse tanto. Dos 6 irmãos só sobraram ele, o futuro guarda noturno, e ela, Marina. Marina, com o tempo, foi se distanciando do nostálgico Guarda Noturno assobiador, que lamentava, mas acreditava nos motivos da irmã. Depois de um tempo ela nunca mais deu notícia. O guarda já estava velinho quando viu nos jornais e revistas que sua irmã, agora famosa, tinha a maior fábrica de gaiolas do mundo. Marina não tinha só engaiolado os pássaros cujos cantos tinham lhe ajudado a enganar a fome, Marina tinha engaiolado seus sonhos. O Guarda Noturno olhou pra Lua de Sangue e assoviou uma cantiga de esperança.

Música do Dia: Tio Anastácio (Jayme Caetano Braun) (Dedico essa décima do Grande poeta payador gaúcho, que contou muito da história dos que até hoje não tem história, para Marina Silva).

Bicho do Dia: Avestruz (7804).

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