Novas Histórias

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Foto de Ju Vinagre

quinta-feira, 5 de junho de 2014

156º Dia: Pare de Tomar a Pílula


                  Todos que acompanham meus escritos diários tem visto que tenho percorrido mundos paralelos pra trazer mais histórias para este blog. Só que o mundo que visitei nessa madrugada e durante todo dia foi algo quase inenarrável. As cenas a seguir serão fortes. Por motivos de preservação da moral não citarei o nome de um dos personagens da história. Chamá-lo-ei de X e outro era um rato. X já estava se achando esquizofrênico, pois há alguns dias pensou ter visto um rato. Lembrando desde já que X vem criando um asco gigantesco por ratos nos últimos anos. Para tirar as dúvidas se existia ou não tal rato, X pediu para um amigo revistar sua casa. Casa vasculhada e o amigo disse não ter encontrado nada. X ficou feliz e preocupado com a notícia. Feliz por não existir o rato e preocupado por ter quase certeza que tinha visto um rato. Esquizofrenia visual e sonora. Um dia depois disso, X ouviu sons estranhos na cozinha, mas desencanou, pois queria dar um basta aquela loucura que já beirava o ridículo. Entretanto, nessa madrugada ao chegar em casa X viu uns bastonetes de cocô no chão do seu quarto. Na hora deduziu: cocô de rato. Pesquisou fotos de cocô de rato na internet e pronto, era mesmo. O pavor tomou conta de X. Taquicardia. Respirou fundo e pensou que podia ser  piração. Mas de repente um barulho na cozinha. Num surto de valentia X foi pra cozinha falou com o possível bicho que não respondeu, cutucou alguns cantos com uma cabo de vassoura. Nada. A dúvida era pior que a existência real do rato. X pegou mantimentos, desligou todas as luzes e se trancou no quarto. Botou toalhas nas frestas da porta. Não sairia nem pra ir ao banheiro. Sentiu-se o personagem de “A Casa Tomada” de Cortazar. Ele não entendia como um rato que nem sabia se existia podia estar tornando sua vida um inferno. Ligou a TV alto, mas entre um silêncio e outro ouvia o pandemônio na cozinha. Pavor. Batidinhas roedoras demoníacas em sua porta. Estava a beira de surtar, mas ao mesmo tempo tinha vergonha de chamar um amigo às 4 da matina e seu resquício de brio o dizia para enfrentar seu medo.  Adormeceu quando o sol nascia. Acordou tarde e indisposto. Parecia que tinha dormido com o Jason e Fred Kruguer em sua cama. Foi ao banheiro já no início da tarde. Deu uma olhada na cozinha e viu muitas coisas no chão. Pavor. Voltou pro quarto e decidiu que enfrentaria o roedor.  Começou pelo banheiro. Atrás da porta tinha um lençol sujo. X puxou-o com cautela. Estava ali o rato. X soltou um grito de pavor. Tava mesmo? Subiu num banco e começou a arrastar o lençol com o pedestal do microfone para fora do banheiro. Viu o rabo do rato. Viu mesmo? X pensou que se não saísse um rato daquele lençol, sairia ele, de pijama mesmo, atrás de um psiquiatra. Arrastando o lençol pela sala quase na cozinha O RATO CORREU PRA DEBAIXO DO FOGÃO! X não estava louco! Sentiu um certo alívio, mas tinha que tirar o rato da casa. Matá-lo estava fora de cogitação. Com madeiras e tralhas construiu um caminho que começava no fogão e desembocava na porta que dava pra rua. Falou com o rato pra ele sair enquanto era tempo, pois quando chegasse o amigo de X o assassinato era certo. O rato não deu ouvidos. Depois de algumas horas conseguiu fazer o rato sair do fogão, só que ao invés de ir pra rua, o bicho saltou pra fora do caminho e veio para a cozinha do lado em que estava X. Se alguém estivesse ali com uma câmera ficaria rico. Cena dantesca pra quem olhasse de longe. Era uma dança macabra de um homem com um rato. X gritava e pulava pela cozinha derrubando tudo com o cabo de vassoura que tinha na mão e o rato saltava de um lado para outro e passava por entre as pernas de X.  Se passasse na TV a cabo o programa se chamaria "Balada Discovery" com aquelas cenas em câmera lenta e zoom em HD. Depois de um xadrez sinistro X encurralou o rato um canto. Olhou para o bichinho indefeso e teve pena. E teve pena de si mesmo também. De onde afinal vinha todo aquele pavor? Sem escolha o rato saiu pra rua e foi embora. X ficou ainda por algum tempo vasculhando coisas e cantos, antes de tomar banho e se deu conta que faziam 18 horas que não comia por causa do rato. Acho que X perdeu o medo, mas podem ter certeza que pagou um preço caro por isso. Pensa agora em ter um ratinho de estimação. Embora eu duvide que algum queira, pois o rato que fugiu deve ter avisado a todos os outros do louco que habita aquela casa. Eu, claro, ri muito. Como dizem no facebook, foi tão divertido que ninguém tirou fotos. Sei que X deve estar lendo isso. Então, por favor X, NÃO pare de tomar a pílula, e se possível, aumente a dose.

Música do Dia: Aids, Pop, Repressão (Ratos de Porão).

Bicho do Dia: Ratazana (Aquela que pode vir a ser sua amiga).

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